terça-feira, 17 de julho de 2012

Por que só em criança pode?

Andréa Mascarenhas



Ontem vi uma cena desconfortável na rua. Enquanto o sol tinia na calçada, e enquanto voltava apressadamente de meu trabalho, ouvi UMA COISA QUE ME PARECEU BRIGA DE MÃE E FILHO/A. O tom de voz era forte, impaciente, nervoso; vinha de trás de um automóvel parado perto da calçada.

- Eu já lhe disse que o troco que peguei na mão dele foi apenas de cinco reais, e eu o usei pra comprar o seu remédio!

E percebi uma voz frágil, porém insistente:

- Eu quero, Q U E R O meu dinheiro! Eu te disse que eu ia querer ele!

Enquanto eu me aproximava, já não mais tão apressadamente, pude ver que os olhos da mulher estavam já arregalados. E a voz mais alta ainda:

- EU JÁ DISSE QUE NÃO TENHO MAIS DINHEIRO ALGUM... !!!

Vi um dedo sendo esticado, furiosamente, em direção de alguém; imagino que em direção a sua face. Mas eu não podia ver esse alguém; só imaginava que se tratava de uma criatura pequena, indefesa, frágil. 

Pedido, explicação, ordens, zangas...

Pensei que ela ia dar um tapa em seu rostinho; eu tive muito medo de presenciar naquele momento, ali no meio da rua, uma cena de violência.

Já bem perto do automóvel, ouvi novamente o pedido, que agora virara uma ordem:

- Quando chegar em casa, você vai me dar tudo! - E ouvi quase que um grito, tal era o tom de voz de insistência daquela criatura.

Vi naquele momento, estampada na cara da mulher, um grande esforço para manter o controle.

Ela parou, respirou fundo, por certo contou até dez... E voltou a andar na calçada, como que cansada de explicar e de tentar convencer a criatura que estava atrás do automóvel. E andou alguns passos. A criatura pequena e frágil seguiu-lhe os passos...

Eu não disse que parecia uma BRIGA DE MÃE E FILHO/A? Realmente, pude ver naquele momento. Diante de meus olhos vi a mulher, que respirava ainda ofegante de nervoso, porém controlada. E vi outra mulher, de tamanho pequeno, indefesa, cabelos brancos, demonstrando fragilidade. 

Posso garantir que viver uma situação parecida com uma criança birrenta e manter a calma não é nada fácil. Mas, como a realidade não me mostrava uma criança naquele momento, não deve ter sido tão difícil assim manter o controle. Muitas de nossas atitudes são guiadas pelos hábitos. E não temos o hábito de bater em velhinhos...


Andréa Cristina Mascarenhas Nascimento dos Santos

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