quarta-feira, 10 de julho de 2013

É o que os pais fazem quando a palmada pára de 'funcionar'...


http://g1.globo.com/fantastico/quadros/sos-infancia/noticia/2013/06/quinze-criancas-sao-vitimas-de-violencia-cada-hora-no-brasil.html

Quinze crianças são vítimas de violência a cada hora no Brasil! Esse número pode ser ainda maior, considerando a ocorrência de agressões não denunciadas!

O Fantástico do dia 23.06.13, numa reportagem especial, exibe histórias tocantes de vítimas de abusos, e a precariedade dos órgãos de defesa das crianças.

Analisando alguns momentos do vídeo acima, observamos que a fala dos pais AGRESSORES é sempre a mesma: “Eu bati nele porque é meu filho; eu tenho o direito de bater. Bato para corrigir.”

Ouvindo a fala dos filhos vitimados pelos próprios pais, percebemos que as crianças sentem-se AGREDIDAS e NÃO corrigidas quando apanham:

“Se meu pai maltrata o próprio filho que sou eu, ele tem a coragem de maltratar a qualquer um. Ele tem prazer em me agredir...”

Alguns depoimentos mostram-nos uma triste e cruel realidade:
“Ela me maltratava muito. Cheguei a ficar em coma. Ao completar 9 anos, contei tudo ao meu pai, que nada fez. A minha mãe castigou-me ainda mais, cortando a minha língua com uma tesoura. Foi ABSORVIDA POR FALTA DE PROVAS, pois, sendo ENTREVISTADO NA FRENTE DELA, eu não consegui falar.”

A realidade: Incapacidade do estado de lidar com a problemática. Despreparo visível dos responsáveis pela defesa da criança brasileira.

As crianças, quando choram e gritam ao apanhar, não o fazem APENAS pela dor, mas, muitas vezes, estão a pedir SOCORRO:
“Eu grito sim, mas só que... eu não sei porque não chamam a polícia...”

Essa é outra dura realidade; não é difícil tirar conclusões: A sociedade, de modo geral, é conivente. Vizinhos e amigos preferem silenciar. O SILÊNCIO FORTALECE O AGRESSOR E ABATE A VÍTIMA.

Tapas, chineladas e surras são manifestações de violência, não importa ‘de quem para quem’. Correção é OUTRA COISA!

sexta-feira, 15 de março de 2013

Pés no chão


Andréa Mascarenhas


Resolvemos voltar andando, pés no chão, coisa que não fazíamos há muito tempo...

Vida corrida tem a ver com carro, velocidade, máquinas, andar apressadamente, condicionados, automatizados... Desconfio que a vida corrida não combina muito com felicidade, amor e paz...
Felicidade combina com andar devagar, desfrutar da presença do outro, observar cada coisa, cada detalhe com que a vida nos presenteia.

E resolvemos voltar da escola andando, coisa que não fazíamos há muito tempo...

Naquele momento, que para nós era único, ele fez apenas três coisas feias, deselegantes, fora da ética e dos padrões de uma boa educação.

A primeira foi que resolveu, com o dinheiro que não gastou na viagem/Teatro/excursão feita pela escola Espaço Livre, comprar um sorvete e tomar no meio da rua (!). Porque parar na sorveteria não dava tempo; apesar da volta a pé, não dava pra ser tão devagar, porque em casa tinha uma pessoa importante, que ralou o dia inteiro, cuidando da casa e de um bebê, com amor e carinho, mas que precisava voltar pro seu lar, pra cuidar de seus filhotes também...

A segunda foi que gritou, entusiasmadamente, seu coleguinha, no meio da rua (!). Mas como pode? Eles estavam juntos há minutos atrás, no passeio, no teatro! Quanta felicidade por ter descoberto onde morava o seu colega!

Detalhes... Só ‘andando a pé’ é que a vida nos mostra seus lindos detalhes...

A terceira... Ah! A terceira. Essa foi muito feia mesmo. Ao passar por uma loja que vende animais (como se chamam mesmo essas lojas? Juro que não sei!), viu o animal que tanto quer: um cachorro. Um não, tinha três (ou foram quatro?), dentro de uma ‘gaiola’ pequena que quase não dava pra eles mudarem de posição. Claro que fiquei com pena dos bichanos e tive vontade de comprar todos pra tirá-los dali de dentro. Nenhum ser vivo merece um confinamento daqueles...

Mas ainda não era a hora. Céus! Como ele quer um cachorrinho. Já chorou, já implorou, até de joelhos... Mas ô vida corrida! Claro que tenho medo de não conseguir o tempo para cuidar do bichinho como ele merece! Afinal são dois filhos, 8 horas diárias de trabalho fora de casa e quase + 8 cá dentro, quando o irmãozinho resolve não dormir à noite...

E naquele momento, no meio da rua, ele fez uma coisa muito feia. QueriaPorqueQueriaPorqueQueria o cachorrinho. Ah! Mas que mal há em um garoto zangar-se no meio da rua porque quer alguma coisa, não é? Meses atrás eu havia escrito, tristemente, que ele estava crescendo e falando coisas de adulto... Então, claro que nem me importei pela sua insistência e reclamações no meio da rua, porque isso é coisa de criança, não é?

Ah! Ele pediu baixinho, reclamou baixinho, insistiu baixinho... Talvez nem tenha sido uma coisa tão feia assim, já que não houve escândalo; com 9 anos já está aprendendo a controlar as suas emoções... Percebi, feliz da vida, como ele é ainda criança sim. Porque criança faz coisa de criança e coisa que só criança faz... Chorar no meio da rua porque quer um cachorrinho é coisa de criança ainda, não é? Ai, que bom! Vejo que ele não cresceu tanto assim... 

Combinamos conversar ao chegar em casa, pra ver a possibilidade de comprarmos o animalzinho no outro dia. Ufa! Ao chegar em casa, deparou-se com seu irmãozinho, feliz da vida, esperando-o de bracinhos abertos. Além dessa coisa gostosa, que enche o coração de alegria e faz esquecer o QueroPorqueQueroPorqueQuero, deparou-se, ainda, com outra surpresa deliciosa! A ajudante do lar tinha feito sorvete de uva, e ainda tinha também do bolo de cenoura com cobertura de chocolate que ela tinha preparado pra o garotão levar pra a viagem... Foi uma melança (outra coisa feia, mas essa a gente não conta porque foi dentro de casa, né?...), uma coisa gostosa, daquelas que faz a gente se esquecer de tudo o que é problema.

Mas, voltando da melança, andar a pé traz um monte de surpresas... Dá pra ver até o por do sol e a lua ‘nascendo’. Há muito tempo atrás, quando voltamos assim outra vez, fotografamos esse lindo cenário no céu.

Andréa Mascarenhas
(Homenagem aos filhotes Allec Levi e Yude Ravi - 9 e 3 aninhos)

sábado, 12 de janeiro de 2013

Marcas

Andréa Mascarenhas


Era o chicote cantando na senzala...
Tidos como qualquer coisa, menos gente.
Os negros tinham que apanhar pra sobreviver.
Trabalho não dava prazer,
trazia apenas o sustento,
amargoso alimento.
Sem sorriso,
sem poder acastelar as crias,
que sumiam;
de suas mãos eram arrancadas
sem piedade,
sem consentimento.
Extraindo lágrimas
de tristeza,
de tormento.
Tristes cenas.
E cruéis...

Travadas guerras e lutas,
com o passar do tempo,
não mais se via
a selvageria.
Enfim, reconhecidos como gente,
dignos de direitos,
como todos.
Toda a brutalidade
que sofreram durante o tempo
como violência foi entendida;
e abolida.

Era a cinta cantando numa carne inocente...
Outra espécie não tratada como gente.
Não estou falando mais de negros.
Também de bichos não.
Estou falando de um ser
puro, inocente,
lindo, indefeso,
cheio de amor e candura.
Da nação o futuro;
da vida a esperança,
estou falando da criança.

Estou falando da família!
Do terror que envolve o lar.
Chinelo, cinto,
fio, chicote, pedaço de pau;
corpos inocentes são atingidos,
imobilizados a cada dia,
massacrados,
machucados.
Marcados pela culpa e dor
Em nome da cultura e do amor...

Proclamam educação
e atingem corpo e coração...
Vedam-se olhos.
A cultura fala mais alto!
Parece normal, mas não é!
Corpos enchem-se de volúpia.
Há quem vibre até;

Amor perde-se no tempo
Confunde-se com os piores sentimentos:
Dor, mágoa, ódio, desprezo, culpa.
Esse ser pequeno ninguém escuta.

E tudo começa com as mãos.
Enraivecidas.
Nervosas.
Mãos que um dia protegeram,
beijaram aquele corpo pequenino
Menina ou menino?
Não importava, brotou do ventre.
E era amado
e acariciado...
Até aprender a usar as mãozinhas
para descobrir o mundo.
E as mãos que o protegiam
Não mais o afagam.
Agora o abatem;
Mãos que machucam,
pisam,
matam.