sábado, 10 de novembro de 2012

Falando das birras infantis...

Andréa Mascarenhas


É preciso compreender:

Os “ataques” de birra fazem parte do desenvolvimento da criança. É uma manifestação de seus desejos, emoções e necessidades. É, talvez, a única forma que ela tem de argumentar e demonstrar o que pensa e o que quer. A birra, portanto, é necessária; é um tipo de comportamento totalmente saudável e normal, até que a criança adquira a maturidade e o autocontrole necessários para usar outros veículos de comunicação.

Essa forma tão normal da criança se comunicar, no entanto, torna-se um grande problema, se falta experiência aos pais para lidarem com ela. É comum vermos pais estressados, nervosos, gritando com a criança e até agredindo-a para que ela pare. Mas, afinal, será que é possível viver um momento assim e manter a calma? A resposta é sim!

Esse é um assunto que precisa ser discutido e refletido. No entanto, é incoerente falar de como lidar com as birras sem falar de assuntos que podem levar as crianças a esse comportamento impulsivo. Existem situações que, por favorecerem esse tipo de conduta na criança, precisam ser evitadas pelos pais. Para isso, estes devem estar atentos a alguns sinais:

Sono – Evite deixar a criança acordada nos seus horários habituais de dormir. O sono é um dos fatores mais propulsores da birra infantil. Não sendo possível que a criança durma em seu horário de rotina, o mínimo que você pode fazer é se preparar para usar muita paciência e tempo para acalmá-la, caso ela tenha uma crise.

Fome – Passar da hora habitual de se alimentar também pode causar mal-humor na criança; portanto, se você não estiver em casa, tenha sempre consigo alguma coisa para comer. Nosso planejamento de tempo pode falhar e, nessas horas, vale tudo ter algo na bolsa!

Manter objetos de proibição longe dos olhos da criança – Que criança não gosta de um celular, um controle remoto, ou qualquer outra coisa atraente? Evitar que esses objetos estejam ao alcance de suas mãos ou de suas vistas é colaborar para redução de momentos de estresse para você e para a criança.

Dificuldades para ouvir ordens que exijam atendimento imediato – Se ela tem problemas com o “pronto-atendimento”, torna-se mais fácil atender a uma ordem quando é avisada com antecedência. Portanto, diga sempre: “Filho/a, após o desenho que você está assistindo, irá tomar banho.” “Daqui a 5 minutos/Assim que terminar o lanche, irá fazer a tarefa de casa etc.”. Isso facilita o atendimento da criança, porque dá tempo para organização de seus pensamentos e para assimilação da ideia, principalmente se for algo que ela não gosta de fazer.

Evite, ainda, dar ordens a todo instante. Isso é terrivelmente irritante. Nós adultos, inclusive, não gostamos de recebê-las. Em outras palavras, trate seu/a filho/a da mesma forma que você gostaria de ser tratado – e quem não gosta de ser tratado com respeito, carinho e atenção? Nesse ponto, vale destacar, também, a importância das escolhas. Ao contrário do que se pensava antigamente, deixar a criança escolher o que ela quer não a prejudica e não a torna mal-educada, mas essa atitude a ajudará no seu processo de independência. Auxilia, também, na relação pais/filhos, já que a criança demonstra naturalmente o que gosta e o que não gosta.

Se você, mesmo tendo todos esses cuidados, depara-se, ainda, com episódios de birra, e tem dificuldade de lidar com essas situações, vamos pensar juntos, há uma série de atitudes e comportamentos que, se praticados continuamente pelos pais, podem auxiliá-los nesses momentos de conflito, ajudando a melhorar o comportamento do/a filho/a:

• Entenda que ele/a está tendo uma "crise", não deve durar tanto tempo. A criança faz isso, geralmente, por não conseguir expressar-se pela fala e porque ainda não consegue conter as suas vontades!

• Preserve a sua autoridade! Entenda que, nessa hora, a criança raramente escutará uma voz imperativa. Ao invés de dar ordens para ela, e correr o risco de não ser atendido, contenha-se e apenas tente acalmá-la;

• É fundamental manter a calma. Em vez de falar com voz imperativa, fale o mais manso que você puder. Um abraço e algumas palavras de carinho e delicadeza costumam ser os melhores 'remédios': "Puxa... Você não está bem, não é? Eu vou te ajudar, vou te dar colo e carinho, certo?" Se você perceber que está nervoso, respire fundo, tome um pouco de água, conte até dez... seja qual for o ataque de birra: chutes, gritos, arremessamento de coisas etc.; Respirar corretamente também é um recurso importante, pois, ao controlar a respiração, mandamos uma mensagem para o nosso cérebro de que está tudo bem...

• Pratique o autocontrole – A forma mais simples de ser melhor em algo é praticando-o. Enquanto você mantém o controle, está exercitando a sua capacidade de tolerância e ensinando a seu/a filho/a algo lindo, que é a ter o autocontrole também. A tendência é, cada vez em que o chilique acontecer, durar menos tempo, até que a criança aprenda de verdade a controlar suas próprias emoções, pelo aprendizado e pelo seu próprio crescimento e amadurecimento;

• Evite receber tapas ou mordidas de seu/a filho/a (se isso acontecer, prefira conversar depois que ele/a se acalmar); Se a ‘crise’ estiver tão forte e você não conseguir acalmá-lo/a com palavras, colo e abraço, é preferível que fique um tanto afastado da criança – caso esteja em um local fechado e seguro; Porém não se afaste tanto, pois as emoções da criança podem estar tão desordenadas a ponto de levá-la a fazer algo mais sério para chamar a sua atenção, ou sentir-se mais explosiva ainda, ao pensar que foi desamparada.

• Se a crise não for muito intensa, fale uma ou duas vezes, o suficiente para a criança escutar: “Não posso te atender enquanto você estiver gritando/pulando/ou qualquer que seja o ato de birra.” Ou: “Quando você se acalmar, eu prometo ouvi-lo/a e entendê-lo.”

• Mostrar alguma coisa que chame a atenção da criança e a faça esquecer-se do objeto proibido é algo muito válido nessa hora, principalmente com as crianças menores. É muito mais eficaz do que ficar mandando ela calar a boca ou parar. Ou seja, mude o foco da birra!

• Evitar ameaças, mas apontar as regras já definidas anteriormente, fazendo a criança lembrar-se das consequências, pode ajudar nesse momento; cumprir as consequências é imprescindível para evitar as próximas birras; mas certifique-se de que seu conceito de causa x consequência está bem definido, se não tem cunho punitivo ou ameaçador, por exemplo;

• Muito cuidado ao dizer o ‘sim’ e o ‘não’. Sua palavra deve ter fundamento. Prefira dizer sim sempre que o objeto desejado pela criança não seja prejudicial a ela e nem ao outro, ou seja, faça, sempre que possível, seu filho feliz (Quem não gosta de ser feliz? Quem gosta de ter decepção ou frustração?). Porém, como a vida não é feita apenas de ‘sim’, na hora em que tiver que dizer ‘não’, certo de que, realmente, não há possibilidade de atender ao pedido de seu/ua filho/a, diga-o sem culpa, seja firme e passe segurança à criança. Mesmo que você sinta vontade de ceder para acabar com o chilique, não o faça. Essa estabilidade é importante, pois mostra para seu/a filho/a que ele/a não ganha com esse tipo de comportamento; Se os pais cedem, torna-se difícil o encontro de um ponto de equilíbrio;

• “Concorde” com a criança. Uma dica que costuma funcionar também nessas horas e suaviza a fúria da criança é fingir que concorda com ela. Por exemplo, se o objeto de desejo é uma tesoura de ponta, em vez de você dizer: “Não vou lhe dar porque machuca!”, diga-lhe: “Entendi... Você quer a tesoura, não é? Você gostou dela, não foi? Eu também a acho bonita, queria deixá-la com você... mas sabia que ela machuca? Eu peguei de sua mão para ela não lhe machucar, entendeu?" – Enquanto você ‘concorda”, a criança vai se acalmando e, quando chega ao ‘não’ ou à explicação do ‘porquê não’, ela já está bem mais consciente e aceita com mais facilidade;

• Se você estiver entre outras pessoas e/ou em lugar público, é preferível que tire a criança, delicadamente,  do local. Se a crise for muito forte e, se for possível e não lhe trouxer prejuízos, opte por ir embora, ou deixe o ambiente até que ela se acalme; faça isso sem demonstrar constrangimento algum diante das pessoas; não se importe com os olhares de reprovação que, possivelmente, você observará. Mostre que tem segurança e que sabe o que faz;

• Em hipótese alguma, use da força física, de gritos e ameaças para fazer seu/a filho/a parar. Esse é um importante momento de aprendizado para ambos. Você é o adulto nessa cena; é quem tem o controle emocional, é quem vai ensinar seu/a filho/a a controlar também as suas emoções. Além disso, as crianças estão, a todo instante, imitando os pais, razão pela qual estes devem ser exemplo para os filhos. Vale refletir aqui: Se um pai briga na frente de seu filho, não está ensinando-o a brigar? Se fuma, não o ensina a fumar? Se fala palavrão, não o ensina a falar também? Percebe, então, a contradição que é bater na criança? Pra ensiná-la a não bater, bate-se nela? Pra ensiná-la a não gritar, grita-se com ela? Se nós esperamos que ela não faça isso com os coleguinhas, com o/a irmãozinho/a e conosco, por que razão nós mesmos faríamos com ela?

• Se seu/a filho/a, nos momentos de crise, prende a respiração até ficar roxo e/ou desmaiar, converse com o pediatra, pois esse comportamento, inclusive, pode estar ligado à deficiência de ferro. Além disso, fique atento a outros tipos de comportamento e sintomas. A falta de humor, o sono excessivo, a dificuldade na hora de comer, a preguiça que você diz que seu/a filho/a sente, por exemplo, pode ser, também, falta desse importante nutriente;

• Toda fase passa. Leve isso sempre em consideração. Você raramente vai ver uma criança de 6, 7 ou 8 anos fazendo birra. Aprenda a compreender cada fase da criança e, aos poucos, você vai ensinando-a valores imprescindíveis para a sua vida;

• Por fim, converse com seu/a filho/a sempre que ele/a se acalmar. Não deixe passar em branco esse tão precioso momento de aprendizado e crescimento. Ajude-o/a na expressão de seus sentimentos. Escute-o/a e entenda-o/a; depois explique o porquê do “não”, se ainda estiver confuso para ele/a;

• É importante também não esperar perfeição da criança. Ela é um ser em desenvolvimento e precisa dos adultos para aprender. São os pais que devem guiar seus passos e apontar caminhos e alternativas. Se, mesmo utilizando tantas alternativas, seu filho, tendo mais de 4 anos, ainda apresenta bastante esse tipo de comportamento, converse com um bom pediatra. Ele pode verificar se há algum problema psicológico mais sério e sugerir outras maneiras de lidar com o problema.


Andréa Cristina Mascarenhas Nascimento dos Santos

17 comentários:

  1. É assim mesmo, amigo! Criança exige o nosso aprendizado constante... Parabéns pelo desafio de tentar educar sem palmada! Parabéns pelo treino da paciência e da tolerância, e por estar buscando compreender as fases do desenvolvimento infantil, para lidar melhor com a sua linda filhinha!

    ResponderExcluir
  2. Mais uma vez me debruço nos seus textos e tento encontrar as respostas que tanto procuro... às vezes encontro, outras, acho que encontrei... diante de tudo fica mesmo a certeza de que é esse o caminho.Talvez seja até redundante, mas obrigada!!!!!Sou fãzona do seu blog e sempre que posso venho ver as novidades( e sempre me encanto).

    Parabéns pelo magnífico trabalho.

    Com admiração,

    ResponderExcluir
  3. Mais uma vez me debruço nos seus textos tentando encontrar as respostas para as minha perguntas. Ás vezes encontro-as... outras acho que as encontrei... Contudo, a certeza de que este é o caminho... pelo menos, o que eu quero seguir.
    Obrigada por oportunizar estes momentos e questionamentos ímpares...
    Sou fãzoca do seu blog e sempre que posso confiro as novidades.
    Parabéns pela magnitude do seu trabalho.
    Com admiração,
    Andréa

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Que bom, que bom, xará (agora xará de verdade rs)!

      Belíssimas palavras! Obrigada!

      Sim, estamos no caminho... E ele é, SEMPRE, cheio de descobertas. Vamos desvendando, passo a passo, novos saberes e novas alternativas para uma educação com carinho, amor, aconchego e respeito a quem tanto amamos, que é a verdadeira maternagem.

      Tbm admiro MUITO a sua determinação em seguir O CAMINHO!

      Grande abraço!

      Excluir
  4. Obrigada pelas dicas. Meu filho tem 2a2m, fala muito pouco e está nessa fase.

    ResponderExcluir
  5. Ótimo texto, vou compartilhar para alguns pais que conheço acho que vai ajudar muito. Beijos.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada por compartilhar, Sabrina! Espero que o texto possa ajudar esses pais; a intenção é essa! Bjs

      Excluir
  6. Excelente texto Andréa, estou amando o blog! Parabéns!

    ResponderExcluir
  7. Muito bom! Concordo com tudo! Mas também recomendo isso: "Para birra e choro, paciência, compreensão e um abração!" http://oqueaprendicomsofia.blogspot.com.br/2011/10/para-manha-paciencia-compreensao-e-um.html

    ResponderExcluir
  8. Obrigada, Andréa por essa preciosa ajuda. Estava necessitando desses textos. Já iniciei colocá-los em prática. Tenho um filho de 2 anos e devido a vários problemas "de adultos" estava "descontando" nele, principalmente com gritos. Me arrependo muito, mas sei que vou conseguir com essas valiosas dicas que você escreve. Muito bom ter esses textos, agradeço a Deus por ter encontrado esse blog a tempo. Até meu outro filho de 8 anos já me disse que estou mudada, graças a você. Obrigada.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, querido/a!

      Peço-lhe perdão pela demora em responder. Por uma questão de saúde, afastei-me de muitas atividades e tenho reduzido muito o meu tempo no uso do computador.

      Fico extremamente feliz em ler o seu relato e saber que meus textos têm lhe ajudado.Continue firme nesse propósito de criar seus filhos com carinho e respeito; continue mudando e evoluindo, na certeza de que está no caminho certo.
      Abraços!

      Excluir