sábado, 12 de janeiro de 2013

Marcas

Andréa Mascarenhas


Era o chicote cantando na senzala...
Tidos como qualquer coisa, menos gente.
Os negros tinham que apanhar pra sobreviver.
Trabalho não dava prazer,
trazia apenas o sustento,
amargoso alimento.
Sem sorriso,
sem poder acastelar as crias,
que sumiam;
de suas mãos eram arrancadas
sem piedade,
sem consentimento.
Extraindo lágrimas
de tristeza,
de tormento.
Tristes cenas.
E cruéis...

Travadas guerras e lutas,
com o passar do tempo,
não mais se via
a selvageria.
Enfim, reconhecidos como gente,
dignos de direitos,
como todos.
Toda a brutalidade
que sofreram durante o tempo
como violência foi entendida;
e abolida.

Era a cinta cantando numa carne inocente...
Outra espécie não tratada como gente.
Não estou falando mais de negros.
Também de bichos não.
Estou falando de um ser
puro, inocente,
lindo, indefeso,
cheio de amor e candura.
Da nação o futuro;
da vida a esperança,
estou falando da criança.

Estou falando da família!
Do terror que envolve o lar.
Chinelo, cinto,
fio, chicote, pedaço de pau;
corpos inocentes são atingidos,
imobilizados a cada dia,
massacrados,
machucados.
Marcados pela culpa e dor
Em nome da cultura e do amor...

Proclamam educação
e atingem corpo e coração...
Vedam-se olhos.
A cultura fala mais alto!
Parece normal, mas não é!
Corpos enchem-se de volúpia.
Há quem vibre até;

Amor perde-se no tempo
Confunde-se com os piores sentimentos:
Dor, mágoa, ódio, desprezo, culpa.
Esse ser pequeno ninguém escuta.

E tudo começa com as mãos.
Enraivecidas.
Nervosas.
Mãos que um dia protegeram,
beijaram aquele corpo pequenino
Menina ou menino?
Não importava, brotou do ventre.
E era amado
e acariciado...
Até aprender a usar as mãozinhas
para descobrir o mundo.
E as mãos que o protegiam
Não mais o afagam.
Agora o abatem;
Mãos que machucam,
pisam,
matam.