segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

AMAR É ESTAR CONECTADO

- Andréa Cristina Mascarenhas Nascimento dos Santos -

Conexão - Essa palavra, tão utilizada nos dias atuais, é de extrema importância na educação dos filhos. A conexão entre a mãe e a criança precisa ocorrer desde o nascimento. Na amamentação, no olhar, no toque, no tom de voz, os pais precisam estabelecer conexão. Para aplicar a Disciplina Positiva, desde a troca da fralda, ao banho, ao passeio, em qualquer atividade realizada com a criança, é preciso conectar-se com ela.

Mas, “o que é conexão? Qual a sua relação com a educação da criança?” - perguntou-me uma mãe, iniciante na DP. Para melhor compreender o termo, vamos refletir um pouco no seu sentido literal. Conectar é ligar uma coisa a outra, com a finalidade de enviar comandos e receber respostas. Seja um sistema de conexão elétrica ou uma conexão de banco de dados, é preciso que estejam bem ativadas para funcionar. Se não há pontos conectados e bem concatenados, não há comunicação entre as partes. Uma conexão elétrica inadequada, por exemplo, pode causar várias respostas inesperadas e negativas: o aumento do consumo de energia, curtos circuitos etc., gerando consequências que vão desde o desligamento dos aparelhos e das estruturas aos incêndios e fatalidades.

O que que quero dizer com isso? Que uma criança precisa estar e sentir-se conectada para poder enviar respostas positivas a seus cuidadores. Que você precisa compreender a sua criança quando está chorando ou com birra; precisa perguntar-se e saber dela o que sente; precisa tocá-la, olhar dentro de seus olhos e sentir o que não vai bem. Precisa abrir canais de comunicação seguros com o seu filho; precisa importar-se com o amadurecimento da sua relação com ele. Precisa aprender a tocar os seus aspectos afetivos e psicológicos, e isso é bem mais amplo do que usar a experiência materna/paterna. Quando um ponto de conexão falhar, você precisa estar pronto a construir novos pontos e a reestabelecer o vínculo. Porque sem vínculo, tudo pode desabar. Muitas vezes você vai precisar até ouvir e decifrar um grito, e não será agradável aos seus ouvidos. Mas terá que admitir que o grito pode ter surgido de uma falha na conexão. Aquele “fio” que você nunca conseguiu colocar no lugar, porque lhe faltou tempo e disponibilidade. Ao ouvir o grito, talvez você precise também desprender-se da visão autoritária do “Você vai ver quem manda aqui” / “Criança não tem querer”, e chamar o seu menino ou menina delicadamente ao diálogo e à escuta.

“Seu filho não veio com botão de liga/desliga”; a maternidade não lhe prescreveu ‘a fórmula’, não lhe presenteou com um manual. Não há fios para se fazer uma ligação; o cordão umbilical já foi rompido. É necessário refazer o elo! Um elo que não envolverá, necessariamente, algo material. Se você o olhar perceberá o ponto certo de acesso, e é aí que se encontra a parte agradável da conexão. Você precisará chegar bem pertinho dele; precisará olhá-lo sempre nos olhos; precisará sentir o seu coração, sua respiração; entender suas necessidades e desejos; conhecê-lo a fundo.

Para isso, você precisará conhecer ‘a alma’ de seu filho. A propósito, você já conhece seu filho? Sabe como fazê-lo feliz? Você entende o que o deixa irritado e triste? Conhece o seu maior desejo? Alguma vez, já tentou ajudar a seu filho a realizá-lo? Nessa vida corrida e cheia de imprevistos, muitas vezes deixamos passar tantos momentos bons e tantas oportunidades de conhecermos e fazermos os nossos filhos felizes. Aquela viagem que pareceu tão bela pode ter sido um fracasso em conexão, se foi dada mais importância às malas, aos gastos, aos amigos. Quantas vezes, após um dia inteiro de trabalho, nos vemos observando os nossos pequenos e percebendo que não estamos acompanhando o seu crescimento e que perdemos tantos episódios de sua vida que gostaríamos de ter assistido e participado. Se queremos construir com eles uma relação saudável e respeitosa, precisamos aprender a nos conectar.

Como fazer essa conexão? Estando inteiro/a com seu filho e permitindo que ele esteja inteiro com você, expondo-lhe seus sentimentos sem constrangimento ou medo; compreendendo o seu filho, construindo momentos de qualidade com ele, curtindo as suas ‘artes’ e folias; dando a atenção que a criança ou o seu adolescente necessita, de acordo a cada fase do desenvolvimento. Em vez de reclamações diárias, aprenda a dialogar e a compreender as suas atitudes e anseios; aprenda a escuta, a observação constante, a interação empática.

Ao contrário do que muitos pensam, a melhor forma de garantir um futuro feliz ao filho não é presenteando-lhe com uma poupança recheada, para que não lhe falte nada material, mas oferecendo-lhe sua presença, acolhimento e amor, para que, na descoberta do mundo, aprenda a lidar com as questões da vida com segurança, persistência, autocontrole, determinação e autoconfiança. O acolhimento, o brincar juntos, o diálogo, o colo, o sorriso, o abraço são os mecanismos necessários para a construção de uma excelente conexão entre pais e filhos. Uma criança que se sente compreendida, amada, respeitada, receberá as mensagens a ela transmitidas muito mais tranquilamente e enviará as respostas com mais segurança. Conectar-se é simples, fácil e barato. Os pais não dependem de um provedor; não dependem de uma empresa de telefonia, nem modem, nem plano mensal. O único provedor e ferramenta que precisam é, sem dúvida, o amor.


Andréa Mascarenhas

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

“FAÇA O QUE EU DIGO, MAS NÃO FAÇA O QUE EU FAÇO"

- Andréa Cristina Mascarenhas Nascimento dos Santos -

A palavra tem força considerável na educação das nossas crianças e adolescentes; as atitudes, porém, têm muito mais eficácia. Elas são capazes de impactar positiva ou negativamente as ações e comportamentos de nossos filhos e filhas. No cotidiano, ensinamos muito mais do que o que pensamos. Na entonação da voz, nos gestos finos ou grosseiros; e até em como tocamos os nossos pequenos, revelamos as nossas intenções e o nosso pensamento sobre o funcionamento do mundo e das pessoas. Nessa interação, uma gama de aprendizados, conceitos e valores vão se formando, e imediatamente passam a ser vivenciados por eles. Ao apresentarem comportamentos incompatíveis com os discursos, os pais embaraçam a mente das crianças e tendem a formar valores opostos ao que pretendem. Aí entra em questão uma palavrinha incrível, excepcional, indispensável na educação dos filhos, chamada exemplo.

Estava eu assistindo a uma palestra ministrada pelo psicólogo Moacir Lira, em agosto de 2012, evento proporcionado pela Secretaria de Educação, em nosso município, auditório com centena de mães (e alguns pais), quando o profissional, falando sobre a educação não-violenta, afirmou algo como: “Pais, não devemos e nem podemos bater em nossos filhos; filho tem que ser ensinado com paciência e amor.” O silêncio dominava o ambiente; percebia-se atitude de reflexão e atenção, quando se ouviu uma voz grave, forte e irritada, a cerca de três metros de onde eu estava: “Tem que bater mesmo pra exemplar”. Passados alguns segundos, olhei para trás, discretamente, à procura de uma voz masculina. Mas não havia homens por perto, só mulheres. Horrorizada com o tom de voz que eu ouvi, fiquei pensando como não seria o dia-a-dia de uma criança, entre as quatro paredes de sua casa, com aquela mãe que, em público e furiosamente, fez questão de anunciar a importância que dava ao ato de bater em seus filhos.

Tristemente constrangida pelo eco daquelas amargas palavras, refletia sobre o que ouvira, percebendo a incoerência da mãe diante do que pretendia ensinar aos filhos: “Exemplar” é dar exemplo, é ensinar através das próprias atitudes e forma de ser. Então, aquela mãe, ao achar que estaria ensinando bons valores ao filho, batendo-lhe, estaria ensinando-lhe gestos brutais e grosseiros, tratamento que o filho iria acabar aprendendo e devolvendo-lhe. “Meu filho, eu te bato para exemplar. Então, pode fazer como eu faço; pode bater em mim e nas outras pessoas.”

Quantos pais não se sentem tristes e frustrados com seus filhos por não saberem se comunicar com gentileza e sem gritos? Será que tratam os filhos da forma como gostariam de ser tratados? Ou acham que criança ainda é um ser pequeno demais para merecer respeito? Enquanto assim pensam, a criança está ouvindo, absorvendo e copiando absolutamente tudo, e formando a sua personalidade e caráter.

Para os pais que, um dia, pensaram parecido com a mãe que mencionei acima, afirmo que educar é ensinar, mostrar o caminho, orientar limites, dialogar. E isso se faz com carinho, dedicação, atenção e paciência. Há que se compreender as FASES DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL para guiar as crianças de acordo com cada fase, evitando cobrar atitudes para as quais seus filhos ainda não estão preparados.

Queridos pais e mães, lembrem-se sempre: somos como espelhos para os nossos filhos. Eles admiram as nossas atitudes; seguem nossos passos; eles ‘se amarram’ naquilo que SOMOS. Queremos filhos amorosos, respeitosos, pacientes, honestos, verdadeiros, justos, tranquilos? Sejamos para eles a expressão do amor, do carinho, do respeito, da paciência, do cuidado, da honestidade, da verdade, da justiça. Em outras palavras, tenhamos a competência de dizer: “Ei, filhos, sigam-me; podem me imitar, podem fazer tudo o que faço e vocês serão homens e mulheres de bem na vida.” Temos credibilidade para dizer-lhes isso? Então, prossigamos sem medo de errar!

Em suma: em vez de preparar longos discursos, sejamos exemplo! Essa é a dica prática mais valiosa de disciplina positiva. Ao contrário do que se pensa, não é o “não” que tem a força maior de orientar limites, mas o exemplo. Porque o exemplo dos pais ensina exatamente, e sem deixar margens a dúvidas, o que os filhos devem ou podem fazer. As palavras ensinam; o bom exemplo valida as palavras, e mostra, na prática, o que convém - ou não - fazer, atraindo os filhos para novas e boas atitudes. Além disso, o pai e a mãe são as pessoas em quem a criança confia e, consequentemente, inspira-se durante todo o tempo; ela copia suas atitudes, que servirão de base para sua convivência social. Em outras palavras, os pais ocupam o lugar de espelho, onde a criança, a todo instante, contempla-se.


Andréa Mascarenhas

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

VIVA A DISCIPLINA POSITIVA!

Furioso, um garoto fala à sua mãe:
- Mamãe, Ravi quebrou meu skate! Eu disse para ele não mexer!
O irmãozinho grita mais enfurecido ainda e sem querer assumir a culpa:
- É pra quebrar mesmo!
A mãe abaixa perto do pequeno, olha dentro de seus olhinhos zangados e apenas pergunta:
- Filho, essas palavras que vc falou: “É pra quebrar mesmo!” são palavras boas? Isso ajuda a você e a seu irmão?
O pequeno respira fundo e responde:
- Não, não são boas. Eu sei falar palavras ótimas. (E dirigindo-se ao seu irmão:) Allec, vc me desculpa? Não foi porque eu quis...
Allec colocou a fúria no bolso e respondeu suavemente:
- Desculpo, Ravi. Vc nem quebrou. Só soltou o parafuso...
E VIVA A DISCIPLINA POSITIVA, porque tapas e gritos não educam. O que é educa é a boa orientação, o diálogo e o exemplo.