quarta-feira, 1 de agosto de 2012

O impacto da violência doméstica na aprendizagem

Andréa Mascarenhas


A escola é uma instituição cultural, e é onde acontece a troca, fundamental para que ocorra o aprendizado. O desenvolvimento da inteligência exige a ação e a interação com o objeto de conhecimento; nesse processo de troca, os conhecimentos vão sendo gerados, porém dependerão de outros fatores e condições sociais internos e externos ao ambiente escolar. O psicólogo francês Wallon diz que “a emoção é a fonte do conhecimento”. O desenvolvimento da criança, portanto, está intimamente ligado tanto ao conhecimento quanto às emoções e sentimentos.

Ausência de diálogo pode fazer com que as crianças cresçam rejeitadas, desobedientes e agressivas. As relações familiares e o carinho dos pais exercem grande influência sobre a evolução dos filhos. As primeiras aprendizagens das crianças ocorrem na primeira relação com a mãe (primeiras palavras, gestos...). “Nessa relação, a criança constrói seu estilo particular de aprendizagem, que sofrerá modificações à medida que a criança se relaciona com outros contextos” (Almeida, 1999, p. 48).

É importante saber, por isso, que tipo de relação a família está tecendo com a criança. Quando bem tratada, amada e respeitada, a criança desenvolve autoconfiança, sentimento que a ajuda no desenvolvimento de suas habilidades e na crescente produção de conhecimentos. Ela se sente encorajada a aprender. O desenvolvimento emocional das crianças e adolescentes é afetado de forma muito intensa no mundo atual, pois, ainda segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), “o afeto implica em aceleração ou retardamento da formação das estruturas”. Sendo assim, a violência doméstica, conhecida camufladamente com punições educativas, é um dos fatores que dificultam a aprendizagem. As consequências da violência doméstica podem ser mais explicadas e mais evidenciadas ainda. A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma:
As consequências da violência infantil sobre a saúde e o desenvolvimento das crianças maltratadas persistem durante a idade adulta e estão relacionadas com um amplo leque de comportamentos de risco, como o abuso das drogas e do álcool. (Organização Mundial da Saúde - OMS).

Uma revisão de pesquisas desenvolvidas ao longo dos últimos vinte anos também confirma as consequências duradouras e nocivas ao desenvolvimento da criança e adolescente vítimas de punições corporais. “Apesar de que o castigo físico pode conduzir a criança a fazer algo na situação imediata, existem muitos efeitos colaterais que podem se desenvolver a longo prazo”, explica a coautora da revisão, Joan Durrant, da Universidade de Manitoba no Canadá. A revisão foi publicada no periódico Canadian Medical Association Journal.

O desenvolvimento emocional das crianças e adolescentes é afetado de forma muito intensiva no mundo atual, pois, ainda segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), “o afeto implica em aceleração ou retardamento da formação das estruturas”.
Uma outra pesquisa, realizada por psiquiatras e neurocientistas da Universidade Washington de Saint Louis, comprova que uma área do cérebro, denominada hipocampo, responsável pela memória, é maior nas crianças criadas com afeto. O estudo, publicado pela revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) indica a relação entre a criação e o tamanho do hipocampo. As crianças criadas com afeto tinham o hipocampo quase 10% maior que as demais. Esse fator pode ter um impacto muito grande no desenvolvimento da inteligência da criança, posteriormente. Essa pesquisa é o primeiro trabalho a mostrar uma mudança anatômica no cérebro.

No Canadá, pesquisas realizadas pela Universidade de Toronto comprovaram que crianças de 3 anos, que apanharam de seus pais, ainda que com as palmadas consideradas por muitos como pedagógicas, apresentavam dificuldade de aprendizado.

Um outro estudo, americano, constatou que a inteligência de crianças que não receberam palmadas até os 4 anos era maior do que a de crianças que foram agredidas por elas. Uma matéria publicada na Revista Veja (Editora Abril) - 20 de março de 1996 - traz explicação para tais situações: As experiências durante a infância nutrem os circuitos nervosos e definem o futuro da área cognitiva e afetiva do cérebro. As boas experiências fornecem subsídios para um bom desenvolvimento da inteligência das crianças; as experiências ruins atrofiam a inteligência. Se as situações negativas vividas são isoladas e não se repetem, acabam por serem deletadas da memória; se elas se prolongam por mais tempo, transforma o cérebro da vítima em um museu de horror. As surras, por exemplo, são experiências capazes de estourar regiões do cérebro, inclusive a amígdala, região onde estão concentradas as emoções.

A família, porém, tem se ausentado, cada vez mais, na educação dos filhos, negando-lhes o direito ao contato afetuoso e, consequentemente, à formação plena de sua integridade emocional. Segundo dados da agência sanitária, a violência durante a infância é o fator responsável por cerca de 6% dos casos de depressão, de abuso ou dependência química, 8% das tentativas de suicídio, 10% das crises de pânico na juventude e na fase adulta.

Incontestável, portanto, a necessidade de intervenção profissional para amenizar as dificuldades de aprendizagem geradas por tal ato, devolvendo às vítimas o resgate da sua autonomia e de sua capacidade de aprendizagem.
Está bem estabelecido que os efeitos da violência doméstica contra a criança e o adolescente podem durar a vida inteira e diminuírem significativamente as chances de uma criança ter um desenvolvimento integral e saudável. (Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul - Print version ISSN 0101-8108).

Capítulo 2.3. de meu TCC 'RELAÇÕES INTERPESSOAIS E A APRENDIZAGEM: O IMPACTO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NO DESEMPENHO ESCOLAR', disponível em: http://www.4shared.com/office/0KNzH8bW/TCC_-_Relaes_interpessoais_e_a.html





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