sábado, 10 de novembro de 2012

Falando das birras infantis...

Andréa Mascarenhas


É preciso compreender:

Os “ataques” de birra fazem parte do desenvolvimento da criança. É uma manifestação de seus desejos, emoções e necessidades. É, talvez, a única forma que ela tem de argumentar e demonstrar o que pensa e o que quer. A birra, portanto, é necessária; é um tipo de comportamento totalmente saudável e normal, até que a criança adquira a maturidade e o autocontrole necessários para usar outros veículos de comunicação.

Essa forma tão normal da criança se comunicar, no entanto, torna-se um grande problema, se falta experiência aos pais para lidarem com ela. É comum vermos pais estressados, nervosos, gritando com a criança e até agredindo-a para que ela pare. Mas, afinal, será que é possível viver um momento assim e manter a calma? A resposta é sim!

Esse é um assunto que precisa ser discutido e refletido. No entanto, é incoerente falar de como lidar com as birras sem falar de assuntos que podem levar as crianças a esse comportamento impulsivo. Existem situações que, por favorecerem esse tipo de conduta na criança, precisam ser evitadas pelos pais. Para isso, estes devem estar atentos a alguns sinais:

Sono – Evite deixar a criança acordada nos seus horários habituais de dormir. O sono é um dos fatores mais propulsores da birra infantil. Não sendo possível que a criança durma em seu horário de rotina, o mínimo que você pode fazer é se preparar para usar muita paciência e tempo para acalmá-la, caso ela tenha uma crise.

Fome – Passar da hora habitual de se alimentar também pode causar mal-humor na criança; portanto, se você não estiver em casa, tenha sempre consigo alguma coisa para comer. Nosso planejamento de tempo pode falhar e, nessas horas, vale tudo ter algo na bolsa!

Manter objetos de proibição longe dos olhos da criança – Que criança não gosta de um celular, um controle remoto, ou qualquer outra coisa atraente? Evitar que esses objetos estejam ao alcance de suas mãos ou de suas vistas é colaborar para redução de momentos de estresse para você e para a criança.

Dificuldades para ouvir ordens que exijam atendimento imediato – Se ela tem problemas com o “pronto-atendimento”, torna-se mais fácil atender a uma ordem quando é avisada com antecedência. Portanto, diga sempre: “Filho/a, após o desenho que você está assistindo, irá tomar banho.” “Daqui a 5 minutos/Assim que terminar o lanche, irá fazer a tarefa de casa etc.”. Isso facilita o atendimento da criança, porque dá tempo para organização de seus pensamentos e para assimilação da ideia, principalmente se for algo que ela não gosta de fazer.

Evite, ainda, dar ordens a todo instante. Isso é terrivelmente irritante. Nós adultos, inclusive, não gostamos de recebê-las. Em outras palavras, trate seu/a filho/a da mesma forma que você gostaria de ser tratado – e quem não gosta de ser tratado com respeito, carinho e atenção? Nesse ponto, vale destacar, também, a importância das escolhas. Ao contrário do que se pensava antigamente, deixar a criança escolher o que ela quer não a prejudica e não a torna mal-educada, mas essa atitude a ajudará no seu processo de independência. Auxilia, também, na relação pais/filhos, já que a criança demonstra naturalmente o que gosta e o que não gosta.

Se você, mesmo tendo todos esses cuidados, depara-se, ainda, com episódios de birra, e tem dificuldade de lidar com essas situações, vamos pensar juntos, há uma série de atitudes e comportamentos que, se praticados continuamente pelos pais, podem auxiliá-los nesses momentos de conflito, ajudando a melhorar o comportamento do/a filho/a:

• Entenda que ele/a está tendo uma "crise", não deve durar tanto tempo. A criança faz isso, geralmente, por não conseguir expressar-se pela fala e porque ainda não consegue conter as suas vontades!

• Preserve a sua autoridade! Entenda que, nessa hora, a criança raramente escutará uma voz imperativa. Ao invés de dar ordens para ela, e correr o risco de não ser atendido, contenha-se e apenas tente acalmá-la;

• É fundamental manter a calma. Em vez de falar com voz imperativa, fale o mais manso que você puder. Um abraço e algumas palavras de carinho e delicadeza costumam ser os melhores 'remédios': "Puxa... Você não está bem, não é? Eu vou te ajudar, vou te dar colo e carinho, certo?" Se você perceber que está nervoso, respire fundo, tome um pouco de água, conte até dez... seja qual for o ataque de birra: chutes, gritos, arremessamento de coisas etc.; Respirar corretamente também é um recurso importante, pois, ao controlar a respiração, mandamos uma mensagem para o nosso cérebro de que está tudo bem...

• Pratique o autocontrole – A forma mais simples de ser melhor em algo é praticando-o. Enquanto você mantém o controle, está exercitando a sua capacidade de tolerância e ensinando a seu/a filho/a algo lindo, que é a ter o autocontrole também. A tendência é, cada vez em que o chilique acontecer, durar menos tempo, até que a criança aprenda de verdade a controlar suas próprias emoções, pelo aprendizado e pelo seu próprio crescimento e amadurecimento;

• Evite receber tapas ou mordidas de seu/a filho/a (se isso acontecer, prefira conversar depois que ele/a se acalmar); Se a ‘crise’ estiver tão forte e você não conseguir acalmá-lo/a com palavras, colo e abraço, é preferível que fique um tanto afastado da criança – caso esteja em um local fechado e seguro; Porém não se afaste tanto, pois as emoções da criança podem estar tão desordenadas a ponto de levá-la a fazer algo mais sério para chamar a sua atenção, ou sentir-se mais explosiva ainda, ao pensar que foi desamparada.

• Se a crise não for muito intensa, fale uma ou duas vezes, o suficiente para a criança escutar: “Não posso te atender enquanto você estiver gritando/pulando/ou qualquer que seja o ato de birra.” Ou: “Quando você se acalmar, eu prometo ouvi-lo/a e entendê-lo.”

• Mostrar alguma coisa que chame a atenção da criança e a faça esquecer-se do objeto proibido é algo muito válido nessa hora, principalmente com as crianças menores. É muito mais eficaz do que ficar mandando ela calar a boca ou parar. Ou seja, mude o foco da birra!

• Evitar ameaças, mas apontar as regras já definidas anteriormente, fazendo a criança lembrar-se das consequências, pode ajudar nesse momento; cumprir as consequências é imprescindível para evitar as próximas birras; mas certifique-se de que seu conceito de causa x consequência está bem definido, se não tem cunho punitivo ou ameaçador, por exemplo;

• Muito cuidado ao dizer o ‘sim’ e o ‘não’. Sua palavra deve ter fundamento. Prefira dizer sim sempre que o objeto desejado pela criança não seja prejudicial a ela e nem ao outro, ou seja, faça, sempre que possível, seu filho feliz (Quem não gosta de ser feliz? Quem gosta de ter decepção ou frustração?). Porém, como a vida não é feita apenas de ‘sim’, na hora em que tiver que dizer ‘não’, certo de que, realmente, não há possibilidade de atender ao pedido de seu/ua filho/a, diga-o sem culpa, seja firme e passe segurança à criança. Mesmo que você sinta vontade de ceder para acabar com o chilique, não o faça. Essa estabilidade é importante, pois mostra para seu/a filho/a que ele/a não ganha com esse tipo de comportamento; Se os pais cedem, torna-se difícil o encontro de um ponto de equilíbrio;

• “Concorde” com a criança. Uma dica que costuma funcionar também nessas horas e suaviza a fúria da criança é fingir que concorda com ela. Por exemplo, se o objeto de desejo é uma tesoura de ponta, em vez de você dizer: “Não vou lhe dar porque machuca!”, diga-lhe: “Entendi... Você quer a tesoura, não é? Você gostou dela, não foi? Eu também a acho bonita, queria deixá-la com você... mas sabia que ela machuca? Eu peguei de sua mão para ela não lhe machucar, entendeu?" – Enquanto você ‘concorda”, a criança vai se acalmando e, quando chega ao ‘não’ ou à explicação do ‘porquê não’, ela já está bem mais consciente e aceita com mais facilidade;

• Se você estiver entre outras pessoas e/ou em lugar público, é preferível que tire a criança, delicadamente,  do local. Se a crise for muito forte e, se for possível e não lhe trouxer prejuízos, opte por ir embora, ou deixe o ambiente até que ela se acalme; faça isso sem demonstrar constrangimento algum diante das pessoas; não se importe com os olhares de reprovação que, possivelmente, você observará. Mostre que tem segurança e que sabe o que faz;

• Em hipótese alguma, use da força física, de gritos e ameaças para fazer seu/a filho/a parar. Esse é um importante momento de aprendizado para ambos. Você é o adulto nessa cena; é quem tem o controle emocional, é quem vai ensinar seu/a filho/a a controlar também as suas emoções. Além disso, as crianças estão, a todo instante, imitando os pais, razão pela qual estes devem ser exemplo para os filhos. Vale refletir aqui: Se um pai briga na frente de seu filho, não está ensinando-o a brigar? Se fuma, não o ensina a fumar? Se fala palavrão, não o ensina a falar também? Percebe, então, a contradição que é bater na criança? Pra ensiná-la a não bater, bate-se nela? Pra ensiná-la a não gritar, grita-se com ela? Se nós esperamos que ela não faça isso com os coleguinhas, com o/a irmãozinho/a e conosco, por que razão nós mesmos faríamos com ela?

• Se seu/a filho/a, nos momentos de crise, prende a respiração até ficar roxo e/ou desmaiar, converse com o pediatra, pois esse comportamento, inclusive, pode estar ligado à deficiência de ferro. Além disso, fique atento a outros tipos de comportamento e sintomas. A falta de humor, o sono excessivo, a dificuldade na hora de comer, a preguiça que você diz que seu/a filho/a sente, por exemplo, pode ser, também, falta desse importante nutriente;

• Toda fase passa. Leve isso sempre em consideração. Você raramente vai ver uma criança de 6, 7 ou 8 anos fazendo birra. Aprenda a compreender cada fase da criança e, aos poucos, você vai ensinando-a valores imprescindíveis para a sua vida;

• Por fim, converse com seu/a filho/a sempre que ele/a se acalmar. Não deixe passar em branco esse tão precioso momento de aprendizado e crescimento. Ajude-o/a na expressão de seus sentimentos. Escute-o/a e entenda-o/a; depois explique o porquê do “não”, se ainda estiver confuso para ele/a;

• É importante também não esperar perfeição da criança. Ela é um ser em desenvolvimento e precisa dos adultos para aprender. São os pais que devem guiar seus passos e apontar caminhos e alternativas. Se, mesmo utilizando tantas alternativas, seu filho, tendo mais de 4 anos, ainda apresenta bastante esse tipo de comportamento, converse com um bom pediatra. Ele pode verificar se há algum problema psicológico mais sério e sugerir outras maneiras de lidar com o problema.


Andréa Cristina Mascarenhas Nascimento dos Santos

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Bater em criança? Sempre foi assim...

Andréa Mascarenhas


Quem nunca parou pra refletir porque fazemos isso ou aquilo, porque nos vestimos dessa ou daquela forma, não é capaz de compreender como somos movidos por hábitos e costumes, e como, a todo o momento, estamos nos deixando influenciar por comportamentos e atitudes do outro, principalmente aqueles adquiridos de geração a geração.

De forma consciente ou não, nossa vida é influenciada, em todos os âmbitos, por esses costumes. E a formação destes em um grupo social se dá de forma paulatina, ao passo que exerce influência no meio e nas pessoas. Aos poucos, vão moldando os modos de um povo, conduzindo a sua forma de ver, de pensar, de fazer e até de ser.

Os costumes vedam os olhos das pessoas, impedindo-as de enxergar além, ou de visualizarem as opiniões do outro ou de outro grupo social. Não raro nos flagramos estranhando o modo de vida de outras pessoas, percebendo e criticando outras posturas, outras formas de ver, de viver e de conviver socialmente.

Se fôssemos fazer uma lista de atitudes e comportamentos que fazem parte de nosso dia-a-dia, dos mais simples aos mais complexos ou comprometedores, teríamos uma página nada pequena, desde a forma de nos vestir, aos nossos hábitos alimentares e à forma de nos comportarmos em sociedade.

Certa vez eu estava no trabalho com algumas colegas. Alguém nos ofereceu bananas no momento do lanche. Enquanto comíamos, uma das colegas mordeu o primeiro pedaço da fruta e procurou por uma lixeira, onde pudesse jogar fora esse pequeno pedaço. Eu perguntei a razão pela qual ela queria jogar o pedaço da fruta no lixo e ela me respondeu: “Ué, não jogamos o primeiro pedaço da banana fora?”. Eu, tranquilamente, comi a minha fruta por inteiro. Apesar de bem madura, ela não tinha nenhuma partícula estragada ou que tivesse ficado exposta a insetos e sujeiras, precisando ser depositada ao lixo. Deduzi que essa era mais uma das nossas atitudes impensadas, apesar de ser uma pequeníssima coisa, nada prejudicial, apenas um detalhe entre tantos costumes que praticamos conosco e com o outro.

O que entra em questão aqui não é a nocividade da atitude, mas a influência do hábito no comportamento e no modo de vida das pessoas. Ao questionar o porquê de fazermos algumas coisas dessa ou daquela forma, a resposta, na maioria das vezes, é: “Sempre foi assim...”

Porém, devo enfocar que atitudes movidas pelo hábito, muitas vezes, são prejudiciais. E este é um aspecto que merece destaque aqui: a força dos costumes e hábitos na propagação do ato de bater em crianças, comportamento danoso e sem sentido algum paro o ato de educar. Ou seja, além de tantos comportamentos movidos pelo hábito, mas sem nenhum impacto na vida social, existem também aqueles que se constituem em grandes erros. E, levando em consideração que o ato de bater em crianças acontece apenas pelo costume, faz-se necessário destacar a necessidade de se refletir sobre tal prática, de forma intensa, clara e contínua.

É preciso mudar a forma de pensar para mudar muitos tipos de comportamentos que apresentamos, dentro de um ou vários grupos sociais do qual fazemos parte, a começar pela família. É possível traçar novos caminhos e encontrar respostas às interrogações que, na maioria das vezes, estão inativas.

Educar crianças batendo: Não há justificativa provável para tal prática!

A infância é a fase da vida em que mais se aprende por exemplos e comportamentos do que por palavras e discursos. O exemplo é, pois, fundamental na educação dos filhos, e a forma de tratamento dada aos filhos pelos pais é um dos aspectos que definem a direção do comportamento da criança, quase sempre. Nessa perspectiva, o diálogo, a atenção e a interação são o caminho mais eficiente, pois envolve sentimentos e valores como o amor, compreensão e o respeito.

Se um pai diz a seu filho que não se deve bater no irmãozinho, no coleguinha ou em outra pessoa, mas ele o faz no próprio filho, as referências da criança ficam confusas. Uma série de paradoxos entra em campo aqui.

Não é fácil mudar o modo de ser, de pensar e de agir, dentro de um contexto histórico tão influente, consideradas as convicções e certezas proporcionadas pelo hábito e pela cultura. As pessoas precisam adquirir consciência do poder que elas têm de transformação. Repensar, refletir, criticar sua forma de agir e pensar é um dos passos importantes a serem percorridos nesse caminho.


Andréa Cristina Mascarenhas Nascimento dos Santos

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Práticas usadas pelos pais no disciplinamento dos filhos

Andréa Mascarenhas


Os estudos revelam que as práticas educativas diferem nos diversos grupos sociais e tempos. Pais, mães e educadores, de forma geral, questionam-se sobre formas de disciplinar os filhos. Pesquisadores observam que algumas famílias são capazes de “funcionar” com certa facilidade, têm filhos tranquilos, bem desenvolvidos e resolvidos emocionalmente; enquanto outras, de mesma situação econômica e social, vivenciam problemas de toda ordem. De acordo com Zamberlan (2003), a família continua a ser o fator norteador do desenvolvimento da personalidade da criança. Porém, quando se fala em desenvolvimento infantil, muitos cuidadores não fazem ideia de sua responsabilidade nesse processo. A criança não se desenvolve sozinha, ela é guiada por exemplos e atitudes dos adultos. As práticas educativas parentais têm uma forte influência nesse desenvolvimento.

Lubi (2003) explica que o desenvolvimento infantil está claramente vinculado ao contexto familiar, às vivências e às práticas educacionais. Essas, por sua vez, constituem-se num conjunto de estratégias, com o objetivo de adquirir obediência e respostas dos filhos a determinadas solicitações de seus pais. Essas práticas visam orientar, educar, instruir e controlar o comportamento dos filhos, a fim de atingir condutas consideradas adequadas pela sociedade.

Badinter, 1985, afirma que as práticas educativas têm relação com a forma pela qual foi vista a criança durante séculos: como uma propriedade privada dos pais e da sociedade; como um adulto em miniatura; e como força do mal, julgada e condenada segundo as normas dos adultos.

Ingberman (2001) relaciona alguns aspectos do comportamento familiar que colaboram para a adequação de seus membros. O primeiro é a comunicação e se refere a comportamentos verbais ou não verbais expressos por seus membros. O segundo aspecto refere-se à iniciação da disciplina, que envolve interação entre pais e filhos, incluindo a aceitação e/ou confronto com as regras. Quando os pais não sabem lidar com a criança, dão margem ao aparecimento de problemas de ordem disciplinar, prejudicando o bom desenvolvimento de seus filhos e gerando rupturas na prática da disciplina, colocando a criança em situação de risco. O terceiro aspecto refere-se aos papéis de cada membro dentro da família, contribuindo para a harmonia da mesma.

O quarto aspecto envolve a liderança que os pais devem exercer no grupo familiar, uma liderança democrática, que combine paternidade com autoridade e busque o bom desenvolvimento emocional de todos. Ainda dentro desse aspecto, Ingberman lembra que a característica dos pais autoritários é exigir obediência rigorosa da criança sem lhe dar explicações, e que os pais “com autoridade” impõem limites, mas são consideravelmente mais flexíveis, mantém o diálogo como ferramenta importante na relação e dão muito carinho aos filhos. Gottman e Claire (1997) dizem que crianças que crescem sem limites e sem orientação de seus pais apresentam dificuldades de concentração, em fazer amizades e em relacionar-se com seus pares. Afirmam, ainda, que as crianças precisam de limites seguros e saudáveis, e que a nossa disposição em colocar esses limites transmite amor.

Os conflitos constituem-se no quinto aspecto e podem ser benéficos, ou não; dependendo de como são tratados, podem conduzir ao equilíbrio ou desequilíbrio emocional. O sexto aspecto ressalta que é comum a manifestação da agressividade no ambiente familiar, mas a afeição deve estar acima desse comportamento, e cabe aos pais gerenciar tais comportamentos. O sétimo diz respeito à harmonia dos pais, gerando esforços para a conquista de objetivos comuns. O oitavo e último aspecto refere-se à autoestima e apresenta a importância de atitudes dos pais para com seus filhos, destacando o interesse por seus sentimentos, sonhos e realizações. Enfatiza, ainda, os danos causados pelos maltratos à vida da criança.

Lubi classifica as práticas educativas em coercitivas e não-coercitivas. Embora ambas têm o mesmo objetivo, são muito diferentes e responsáveis por diferentes efeitos.

As estratégias de força coercitiva, segundo Alvarenga (2001), são caracterizadas pelo uso da força e da punição, seja física ou psicológica. Entre as formas de manifestação da força coercitiva estão os castigos físicos, a privação do afeto e as ameaças. A criança controla seu comportamento em função das reações dos pais. A força coercitiva produz fortes emoções negativas, tais como medo, raiva e ansiedade, que interferem negativamente na capacidade da criança entender seu erro. Portanto, as práticas de força coercitiva não beneficiam o aprendizado das regras e padrões sociais. Frequentemente são citadas as relações entre práticas de caráter coercitivo e problemas de comportamento, entre eles estão a agressividade, desobediência etc.

De acordo com Weber, Viezzer e Brandenburg (2003, p. 499), para muitos pais a punição física é a melhor forma de disciplinar os filhos. Isso acontece porque a força física paralisa a ação, levando a criança a mudar de comportamento momentaneamente. A imediata obediência traz benefício para os pais, aumentando a probabilidade de continuarem a utilizar tal prática em outras situações. Os pais, explicam as autoras, precisam aprender outras formas de disciplinar seus filhos, que garantam a mudança de comportamento duradoura e adequada, mantendo uma dinâmica familiar, que priorize o afeto, o comprometimento e a autoridade democrática.

As estratégias de força não-coercitiva envolvem a utilização da disciplina positiva (uso de reforçadores), o estabelecimento de regras (limites), com uma supervisão constante, incentivo à autonomia e fortalecimento da autoestima da criança.


Capítulo 1.3 de meu TCC 'RELAÇÕES INTERPESSOAIS E A APRENDIZAGEM: O IMPACTO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NO DESEMPENHO ESCOLAR', disponível em: http://www.4shared.com/office/0KNzH8bW/TCC_-_Relaes_interpessoais_e_a.html


sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Uma análise sobre a “vara da Bíblia”

Andréa Mascarenhas


Muitas pessoas, por apegarem-se à literalidade de palavras da Bíblia, entendem que precisam bater em seus filhos para discipliná-los. Afirmamos, porém, com base em estudos e reflexões profundas sobre o tema, que a Bíblia não apóia tal prática.

Alguns versículos que “embaraçam” a mente das pessoas com relação à prática:

1. Aquele que poupa a vara aborrece ao seu filho; mas quem o ama, a seu tempo o castiga. Provérbios 13:24
2. Não retires da criança a disciplina; porque, fustigando-a tu com a vara, nem por isso morrerá. Provérbios 23:13
3. A estultícia está ligada ao coração do menino; mas a vara da correção a afugentará dele. Provérbios 22:15

Pensemos inicialmente: Pregamos que Deus é Pai. Somos, pois, seus filhos. Se somos filhos, somos por Ele também disciplinados, corrigidos. Encontramos versículos que falam na correção de seus filhos por Deus? Sim, inclusive falam também do uso da vara. Mas que vara será essa? O que a vara citada está representando? Nesse contexto, analisemos os próximos versículos:

1. Saberás, pois, no teu coração que, como um homem corrige a seu filho, assim te corrige o Senhor teu Deus. Deuteronômio 8:5
2. Eis que bem-aventurado é o homem a quem Deus corrige; não desprezes, pois, a correção do Todo-Poderoso. Jó 5:17
3. (...) pois o Senhor corrige ao que ama, e açoita a todo o que recebe por filho. Hebreus 12:6
4. “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam.” – Salmos 23:4

Percebemos claramente nesses versículos a não literalidade da vara. Primeiro porque nunca vimos Deus açoitar literalmente seus filhos; Segundo porque a vara falada no livro de Salmos tem o papel de consolar. Entendemos, pois, que a vara é usada na disciplina como instrumento para guiar, apontar o caminho. E educar é isso! Como no início da leitura (vers. 1°) Deus é apresentado como Pastor, percebemos que a vara é um instrumento usado para apascentar, corrigir desvios, apontar a passagem às ovelhas, conduzindo-as no caminho certo e livrando-as dos perigos.

Diante disso, é válido refletirmos:

• Se a vara usada por Deus/Pai nos consola, por que a vara usada pelo pai e mãe seria usada para bater, açoitar ou fustigar literalmente?
• Quando Deus nos corrigiu com a vara literalmente?
• Quando o pastor da Igreja, que faz o papel de pai, ensinando, disciplinando, usou da vara literalmente para corrigir a seu rebanho?
• Onde na Bíblia encontramos Jesus, já que Ele esteve presente em forma humana na Terra, repreendendo com vara as crianças?

O apóstolo Paulo também falou da vara quando se referiu à correção dos membros da igreja em Corinto:
• Que quereis? Irei a vós com vara, ou com amor e espírito de mansidão? 1 Coríntios 4:21

Quando/Onde encontramos na Bíblia Paulo açoitando de vara o povo que estava sob a sua responsabilidade ensinar?

Jesus quando esteve na Terra, deixou-nos lindas lições de amor ao próximo, ensinou-nos lições incomparáveis de perdão. Uma das mais lindas lições foi a do perdão à mulher adúltera, quando fez com que todos refletissem sobre seus atos e desistissem de apedrejar àquela mulher!

Por que à mulher adúltera Jesus perdoaria e às crianças, seres em formação, que não conhecem as consequências de seus erros, Ele mandaria açoitar?

Chamam-nos a atenção também o seguinte versículo da Bíblia:

• O que semear a perversidade segará males; e a vara da sua indignação falhará. Provérbios 22:8

E são os males que muitos estão colhendo nos últimos séculos: Os valores perdem-se a cada dia. Muitos filhos não aprenderam a respeitar os seus pais, pois são tratados sem nenhum respeito, com violência, humilhações, por repressão e medo. Na família, a afetividade está cada vez mais dando lugar à ira, pois ao passo que as crianças são agredidas, têm seu coração preenchido pela raiva, ódio, medo, desamor...

Está claro aqui que Deus não apóia atos de violência/perversidade. Está claro que a tal vara provoca indignação, raiva e ódio e, por isso, não foi recomendada por Deus.

Há alguns versículos ainda, inclusive muito lindos, pouco usados pelos pais:
• Beijai o Filho para que se não irrite, e não pereçais no caminho. Salmos 2:12ª
• E vós, pais, não provoqueis à ira vossos filhos, mas criai-os na disciplina e admoestação do Senhor. Efésios 6:4

Qual é o sentimento que se desperta no coração de uma criança agredida? Não seria exatamente a ira?

Por que em vez de continuarmos repetindo atitudes errôneas e afirmando questões e pensamentos infundados, não procuramos refletir sobre as nossas práticas e ver se elas fazem sentido à luz da Palavra de Deus?

Andréa Cristina Mascarenhas Nascimento dos Santos

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Por que você mora na rua?

Andréa Mascarenhas


Em meu contato com crianças deparo-me, muitas vezes, com fatos engraçados, mas, se bem observados, muito interessantes. Fico a analisar como funciona o pensamento da criança.

Estava à espera do horário para início de um de meus trabalhos com os pais, quando uma criança bem ativa, com o nome de Sofia, aproximou-se de mim, de uma forma bem animada, que é própria da criança, e, após minutos de brincadeira com suas bonequinhas, eis a pergunta:

- Onde você mora?

Eu, certa de estar dando a resposta correta, digo com bastante entusiasmo na voz e toda sorridente, tentando corresponder à animação da garotinha: Eu moro na Rua Nova Esperança, n° 40.

E a menina, espontaneamente, com ar de admiração e piedade:

Oh... Você não tem casa? Por que você mora na rua???

Sem saber se respondia ou se ria, tentei explicar-me para a menininha de apenas 4 anos:

- Eu tenho casa, minha casa fica na rua Nova Esperança n° 40...

E ela precisou de provas para passar a acreditar que eu não a estava enganando, que eu não tinha mudado de resposta. E pede gesticulando:

- Então me diz: Quem são seus vizinhos do lado de cá? E quem são seus vizinhos do lado de lá?

Ri bastante e, como sempre faço quando me deparo com situações desse tipo vivenciadas com crianças, aproveitei para aprender com ela. E fiquei pensando sobre como ocorre o pensamento infantil, como a criança pensa diferente do adulto e como precisamos compreender isso para saber como proceder em diversas situações de interação com ela.

Compreender que a criança não pensa da mesma forma que o adulto não é uma tarefa tão complexa, mas lidar com comportamentos e reações provocadas pela compreensão (ou não compreensão) que esse ser pequenino tem do mundo que a cerca, muitas vezes, é bem desgastante para os adultos.

Segundo Jean Piaget (1896-1980), psicólogo e filósofo suíço, conhecido pelo seu trabalho desbravador no campo da inteligência infantil, o pensamento da criança desenvolve-se gradativamente, e em uma sucessão de estágios ela vai construindo conceitos, formando suas opiniões, de acordo às oportunidades, possibilidades e experiências vividas. Nem sempre, contudo, as crianças correspondem às noções presentes no mundo adulto.

Grande parte dos conflitos que ocorrem entre pais e filhos dá-se pela não compreensão de como funciona a mente das crianças. Dadas as ordens, a mãe ou o pai espera o pronto atendimento por parte de seu (a) filho (a), e ele/a, muitas vezes, não consegue retribuir essa expectativa. Conciliar os dois pontos de vista – o infantil e o adulto – é um dos aspectos importantes para amenizar os conflitos que ocorrem entre pais e filhos. É preciso, portanto, que a forma de pensar da criança seja respeitada e, ao mesmo tempo, que esta tenha contato com as noções estabelecidas pelos adultos, para que, assim, construa seu próprio conhecimento.

Andréa Cristina Mascarenhas Nascimento dos Santos

domingo, 5 de agosto de 2012

A punição corporal - terror doméstico contra crianças e adolescentes

Andréa Mascarenhas


A punição corporal faz parte das relações parentais desde os primórdios, sempre camuflada por trás da educação, da imposição de limites aos filhos. São muitas as formas de castigo físico adotado por pais, mães e/ou responsáveis no disciplinamento de crianças e adolescentes. A violência doméstica contra a criança e o adolescente é um problema que faz milhares de vítimas e não escolhe nível social, econômico ou cultural, e pode impedir um bom desenvolvimento físico e mental das pessoas vítimas.

Ao constituir o olhar sobre a educação da infância referida às relações parentais, p. ex., temos resgatado teórica e empiricamente a produção sobre as condições históricas de transformação das relações familiares, seus reflexos nas expectativas, representações e ações dirigidas à educação das crianças e as formas como se manifestam as relações cotidianas. Para tanto, tomamos como foco principal o processo de socialização e a possível manifestação da violência doméstica contra a criança (Magalhães; Barbosa, 2003, p. 76).

As raízes desta prática violenta – a punição corporal – comum em tantas culturas, remontam à Antiguidade. Os castigos físicos ocupam lugar principal na educação das crianças. A história mostra-nos isso. O castigo físico constituía-se na única forma reconhecida de manifestação da autoridade, revelava a desumanidade contra a criança e o adolescente nas relações parentais da época, era como um símbolo da ‘profissão de pais’ na disciplina dos filhos.

Existe, porém, grande diferença entre punir e disciplinar. O filósofo francês Michel Foucault define com bastante propriedade isso; segundo o teórico, a punição ou o castigo seria tudo aquilo que advêm após a falta cometida, na tentativa de evitar sua repetição, através da ameaça, do medo, ou da repressão. A disciplina, por sua vez, é um processo contínuo de instrução e acompanhamento, com mecanismos e ferramentas diferenciadas, entre elas está o diálogo, que tem como objetivo evitar o aparecimento da falta.

Infelizmente são muitas as situações que turbam e degeneram a individualidade das crianças, em sua maioria frutos de famílias desestruturadas, onde pais e filhos são desligados afetivamente, através da rejeição física e/ou psicológica, através das cobranças exageradas, causando-lhes sofrimento, principalmente aos mais introvertidos. Estudos contemporâneos sobre práticas de violência evidenciam que a maioria dos atos desta natureza advém dentro do ambiente doméstico. O lar deixa de ser o ambiente protetor da criança e adquire uma perspectiva aterrorizante e ameaçadora.

A família é o reino do interdito e da pretensão de ‘mandar’ nos seus membros, como se fossem coisas e não pessoas. Toda interdição à possibilidade de crescimento e desenvolvimento afetivo, intelectual, existencial, sexual, físico e político da criança, é uma violência tão brutal quanto a pedofilia, o abuso sexual, a privação emocional, a violência física (a palmada e afins) e a tortura. Estas, aliás, são rebentos monstruosos daquelas. (B. OLIVEIRA, Thelma, 2012, O Livro da Maternagem, p. 486).

O castigo corporal não marca apenas o corpo físico; ele destrói o interior, humilha e até mata; constitui, portanto, um agravo à integridade humana. No entanto o hábito está tão impregnado na mente das pessoas, que elas não conseguem enxergar mal algum nessas práticas; e até as defendem.

Segundo Lima (2004) há quem não usa castigo físico, mas violenta psicologicamente, e isso pode ter um efeito tão negativo quanto o primeiro na formação da personalidade da criança. Castigo psicológico marca para sempre o ser humano. A violência – física ou psicológica - além de trazer danos à saúde física e mental do homem, prejudica o seu desenvolvimento por inteiro. Entre as grandes consequências dos castigos físicos estão as manifestações de agressividade, os distúrbios de conduta, o fracasso escolar, problemas de saúde física, baixa autoestima, ansiedade e dificuldade para relacionar-se socialmente. Todos esses problemas interferem na atenção e concentração, afetando, portanto, a aprendizagem.

São alguns dos métodos de penitência e tortura tradicionais na vida da família: a extorsão, o insulto, a ameaça, o cascudo, a bofetada, a surra, o açoite, o quarto escuro, a ducha gelada, o jejum ou a comida obrigatória, a proibição de sair, de dizer o que pensa, de fazer o que sente e a humilhação pública... Para castigo à desobediência e exemplo de liberdade, a tradição familiar perpetua uma cultura do terror que humilha a mulher, ensina os filhos a mentir e contagia tudo com a peste do medo. (B. Oliveira, Thelma O Livro da Maternagem, 2012, p. 415, apud EDUARDO GALEANO, O livro dos abraços, 1989)

Capítulo 2.2. de meu TCC 'RELAÇÕES INTERPESSOAIS E A APRENDIZAGEM: O IMPACTO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NO DESEMPENHO ESCOLAR', disponível em: http://www.4shared.com/office/0KNzH8bW/TCC_-_Relaes_interpessoais_e_a.html

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

O impacto da violência doméstica na aprendizagem

Andréa Mascarenhas


A escola é uma instituição cultural, e é onde acontece a troca, fundamental para que ocorra o aprendizado. O desenvolvimento da inteligência exige a ação e a interação com o objeto de conhecimento; nesse processo de troca, os conhecimentos vão sendo gerados, porém dependerão de outros fatores e condições sociais internos e externos ao ambiente escolar. O psicólogo francês Wallon diz que “a emoção é a fonte do conhecimento”. O desenvolvimento da criança, portanto, está intimamente ligado tanto ao conhecimento quanto às emoções e sentimentos.

Ausência de diálogo pode fazer com que as crianças cresçam rejeitadas, desobedientes e agressivas. As relações familiares e o carinho dos pais exercem grande influência sobre a evolução dos filhos. As primeiras aprendizagens das crianças ocorrem na primeira relação com a mãe (primeiras palavras, gestos...). “Nessa relação, a criança constrói seu estilo particular de aprendizagem, que sofrerá modificações à medida que a criança se relaciona com outros contextos” (Almeida, 1999, p. 48).

É importante saber, por isso, que tipo de relação a família está tecendo com a criança. Quando bem tratada, amada e respeitada, a criança desenvolve autoconfiança, sentimento que a ajuda no desenvolvimento de suas habilidades e na crescente produção de conhecimentos. Ela se sente encorajada a aprender. O desenvolvimento emocional das crianças e adolescentes é afetado de forma muito intensa no mundo atual, pois, ainda segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), “o afeto implica em aceleração ou retardamento da formação das estruturas”. Sendo assim, a violência doméstica, conhecida camufladamente com punições educativas, é um dos fatores que dificultam a aprendizagem. As consequências da violência doméstica podem ser mais explicadas e mais evidenciadas ainda. A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma:
As consequências da violência infantil sobre a saúde e o desenvolvimento das crianças maltratadas persistem durante a idade adulta e estão relacionadas com um amplo leque de comportamentos de risco, como o abuso das drogas e do álcool. (Organização Mundial da Saúde - OMS).

Uma revisão de pesquisas desenvolvidas ao longo dos últimos vinte anos também confirma as consequências duradouras e nocivas ao desenvolvimento da criança e adolescente vítimas de punições corporais. “Apesar de que o castigo físico pode conduzir a criança a fazer algo na situação imediata, existem muitos efeitos colaterais que podem se desenvolver a longo prazo”, explica a coautora da revisão, Joan Durrant, da Universidade de Manitoba no Canadá. A revisão foi publicada no periódico Canadian Medical Association Journal.

O desenvolvimento emocional das crianças e adolescentes é afetado de forma muito intensiva no mundo atual, pois, ainda segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), “o afeto implica em aceleração ou retardamento da formação das estruturas”.
Uma outra pesquisa, realizada por psiquiatras e neurocientistas da Universidade Washington de Saint Louis, comprova que uma área do cérebro, denominada hipocampo, responsável pela memória, é maior nas crianças criadas com afeto. O estudo, publicado pela revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) indica a relação entre a criação e o tamanho do hipocampo. As crianças criadas com afeto tinham o hipocampo quase 10% maior que as demais. Esse fator pode ter um impacto muito grande no desenvolvimento da inteligência da criança, posteriormente. Essa pesquisa é o primeiro trabalho a mostrar uma mudança anatômica no cérebro.

No Canadá, pesquisas realizadas pela Universidade de Toronto comprovaram que crianças de 3 anos, que apanharam de seus pais, ainda que com as palmadas consideradas por muitos como pedagógicas, apresentavam dificuldade de aprendizado.

Um outro estudo, americano, constatou que a inteligência de crianças que não receberam palmadas até os 4 anos era maior do que a de crianças que foram agredidas por elas. Uma matéria publicada na Revista Veja (Editora Abril) - 20 de março de 1996 - traz explicação para tais situações: As experiências durante a infância nutrem os circuitos nervosos e definem o futuro da área cognitiva e afetiva do cérebro. As boas experiências fornecem subsídios para um bom desenvolvimento da inteligência das crianças; as experiências ruins atrofiam a inteligência. Se as situações negativas vividas são isoladas e não se repetem, acabam por serem deletadas da memória; se elas se prolongam por mais tempo, transforma o cérebro da vítima em um museu de horror. As surras, por exemplo, são experiências capazes de estourar regiões do cérebro, inclusive a amígdala, região onde estão concentradas as emoções.

A família, porém, tem se ausentado, cada vez mais, na educação dos filhos, negando-lhes o direito ao contato afetuoso e, consequentemente, à formação plena de sua integridade emocional. Segundo dados da agência sanitária, a violência durante a infância é o fator responsável por cerca de 6% dos casos de depressão, de abuso ou dependência química, 8% das tentativas de suicídio, 10% das crises de pânico na juventude e na fase adulta.

Incontestável, portanto, a necessidade de intervenção profissional para amenizar as dificuldades de aprendizagem geradas por tal ato, devolvendo às vítimas o resgate da sua autonomia e de sua capacidade de aprendizagem.
Está bem estabelecido que os efeitos da violência doméstica contra a criança e o adolescente podem durar a vida inteira e diminuírem significativamente as chances de uma criança ter um desenvolvimento integral e saudável. (Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul - Print version ISSN 0101-8108).

Capítulo 2.3. de meu TCC 'RELAÇÕES INTERPESSOAIS E A APRENDIZAGEM: O IMPACTO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NO DESEMPENHO ESCOLAR', disponível em: http://www.4shared.com/office/0KNzH8bW/TCC_-_Relaes_interpessoais_e_a.html





domingo, 29 de julho de 2012

“LEVANTA PRA CAIR DE NOVO!"

Andréa Mascarenhas


São várias as situações tão comuns, que mostram claramente o descaso e a falta de respeito com que são tratadas as nossas crianças e, PRINCIPALMENTE, pelos próprios pais!

DAS SITUAÇÕES ABAIXO JÁ VI DEMAIS! - Não sei qual exatamente estou descrevendo:

Situação 1: Uma pessoa adulta vai atravessando a rua e cai no chão. Várias outras pessoas a acodem; forma-se uma roda incrível ao redor da vítima; oferecem-lhe a mão, as duas mãos, os pés, o carro, o avião...

"Está sentindo alguma coisa, sr./sra. Fulano/a?"
"Não quer ir ao médico fazer uma avaliação da queda?"
"Quer que eu ligue para seu marido/esposa pra vim lhe buscar?"
"Consegue levantar-se?"
"Eu te ajudo a andar."
"Dá-me essa sacola, ela deve estar muito pesada!"

Se for mulher (e bonita) ainda tem 'bônus' - Antes de levantar-se, já lhe deram os braços, o abraço, enxugaram-lhe as lágrimas...

Situação 2: Uma criança brinca na calçada e cai no chão. Algumas pessoas passam e nem se comovem PORQUE A MÃE já prestou o atendimento: “LEVANTA PRA CAIR DE NOVO!"


Andréa Cristina Mascarenhas Nascimento dos Santos

HÁBITO: UM VILÃO DAS CRIANÇAS

Andréa Mascarenhas


OLHA O QUE O HÁBITO FAZ COM A CRIANÇA; veja como é cruel a cultura da violência infantil.

Situação 1:

Um adulto/visita chega à casa de uma amiga e esbarra-se com um vaso caríssimo, vaso de estimação da dona da casa e quebra. Escuta:

"Não tem problema, não se preocupe, isso acontece... não foi porque você quis..."

E o adulto - todo desconsertado:

"Diz-me o valor para que eu te pague esse prejuízo; dá-me vassoura e pá pra que eu tire os cacos e limpe o chão; eu vou procurar e comprar um igual..."

E a dona da casa/do vaso:

"Não, não se preocupe, sei que não foi porque quis, não tem nada a pagar e fica tranquila..."

Por dentro, a dona de casa: "Tonta, parece que não enxerga... Logo meu vaso mais caro... Ai, que raiva, que tristeza... que... que..." Um monte de emoções BEM controladas.


Situação 2:

O filho está brincando com um amiguinho e esbarra-se em um vaso, bonito, porém menos valioso, e escuta:

"Moleque, você não enxerga não, é? Sabe quanto custou esse vaso? Vai levar uma palmadas/surra/beliscão pra aprender e ainda vai pegar todos os cacos espalhados pelo chão... "Ou "vai se virar, mas vai ter que me dar outro do mesmo... "

Por que a diferença de tratamento entre duas situações iguais?

A única diferença que eu vejo: Uma é criança e a outra/outro é adulto/a. E o hábito diz que se bate ferozmente em criança quando erra e se perdoa delicadamente o adulto que faz erros iguais ou piores - ainda se acrescenta a isso que ERRAR É HUMANO! E criança também não faz parte dessa espécie?

Andréa Cristina Mascarenhas Nascimento dos Santos

terça-feira, 17 de julho de 2012

Por que só em criança pode?

Andréa Mascarenhas



Ontem vi uma cena desconfortável na rua. Enquanto o sol tinia na calçada, e enquanto voltava apressadamente de meu trabalho, ouvi UMA COISA QUE ME PARECEU BRIGA DE MÃE E FILHO/A. O tom de voz era forte, impaciente, nervoso; vinha de trás de um automóvel parado perto da calçada.

- Eu já lhe disse que o troco que peguei na mão dele foi apenas de cinco reais, e eu o usei pra comprar o seu remédio!

E percebi uma voz frágil, porém insistente:

- Eu quero, Q U E R O meu dinheiro! Eu te disse que eu ia querer ele!

Enquanto eu me aproximava, já não mais tão apressadamente, pude ver que os olhos da mulher estavam já arregalados. E a voz mais alta ainda:

- EU JÁ DISSE QUE NÃO TENHO MAIS DINHEIRO ALGUM... !!!

Vi um dedo sendo esticado, furiosamente, em direção de alguém; imagino que em direção a sua face. Mas eu não podia ver esse alguém; só imaginava que se tratava de uma criatura pequena, indefesa, frágil. 

Pedido, explicação, ordens, zangas...

Pensei que ela ia dar um tapa em seu rostinho; eu tive muito medo de presenciar naquele momento, ali no meio da rua, uma cena de violência.

Já bem perto do automóvel, ouvi novamente o pedido, que agora virara uma ordem:

- Quando chegar em casa, você vai me dar tudo! - E ouvi quase que um grito, tal era o tom de voz de insistência daquela criatura.

Vi naquele momento, estampada na cara da mulher, um grande esforço para manter o controle.

Ela parou, respirou fundo, por certo contou até dez... E voltou a andar na calçada, como que cansada de explicar e de tentar convencer a criatura que estava atrás do automóvel. E andou alguns passos. A criatura pequena e frágil seguiu-lhe os passos...

Eu não disse que parecia uma BRIGA DE MÃE E FILHO/A? Realmente, pude ver naquele momento. Diante de meus olhos vi a mulher, que respirava ainda ofegante de nervoso, porém controlada. E vi outra mulher, de tamanho pequeno, indefesa, cabelos brancos, demonstrando fragilidade. 

Posso garantir que viver uma situação parecida com uma criança birrenta e manter a calma não é nada fácil. Mas, como a realidade não me mostrava uma criança naquele momento, não deve ter sido tão difícil assim manter o controle. Muitas de nossas atitudes são guiadas pelos hábitos. E não temos o hábito de bater em velhinhos...


Andréa Cristina Mascarenhas Nascimento dos Santos

terça-feira, 10 de julho de 2012

Castigos físicos aumentam chances de crianças apresentarem distúrbios mentais na vida adulta

Andréa Mascarenhas


 Punições físicas aplicadas pelos pais para disciplinar os filhos podem desencadear uma série de problemas mentais entre as crianças ao longo da vida. Segundo um novo estudo publicado nesta segunda-feira na revista Pediatrics, agressões — mesmo que não sejam as formas mais graves de abuso, como sexual ou negligência, comprovadamente prejudiciais à saúde mental — como empurrar, bater e agarrar, estão associadas a distúrbios de ansiedade e de personalidade.

 Veja mais:

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MEU TCC, CURSO DE PEDAGOGIA 2012 - RELAÇÕES INTERPESSOAIS E A APRENDIZAGEM: O IMPACTO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NO DESEMPENHO ESCOLAR


RESUMO


      A ocorrência de maus tratos na infância e adolescência é comum em todo o mundo. Embora a sociedade, de modo geral, abomine a agressividade contra humanos e até animais, existem expressões de violência aceitas culturalmente pelas pessoas: os castigos físicos aplicados a crianças e adolescentes pelos pais. Este trabalho objetiva refletir sobre as relações interpessoais e o desempenho escolar e, mais especificamente, sobre o impacto da violência doméstica na vida afetiva, emocional e cognitiva das crianças e adolescentes. O trabalho justifica-se pela necessidade de aprofundamento do tema e criação de condições para o enfrentamento dos castigos físicos e humilhantes, bem como do fenômeno bullying nas relações escolares, tomando como base pesquisas bibliográficas.

      Sobre violência entenda-se todo e qualquer tipo de constrangimento físico ou moral exercido sobre alguém, com ou sem uso da força física; desde xingamentos, humilhações e palmadas a surras, queimaduras e outras espécies de tortura. Este trabalho foca, principalmente, as formas de violência mais aceitas culturalmente pela sociedade, confundidas, equivocadamente, com disciplina, amor, limite, autoridade. Atualmente, muitos estudos são feitos no Brasil e em vários países do mundo, sobre os efeitos danosos desse tão conhecido fenômeno cultural. Pesquisas, investigações e estudos procuram avaliar os ímpetos que a problemática traz e os efeitos danosos deixados em suas vítimas.

      Não bastam apenas leis; é preciso educar os pais para que aprendam educar a seus filhos. É possível resgatar a vontade de aprender em crianças e adolescentes, mas para isso é preciso que se lhes devolva, principalmente, a autoestima.
Palavras-


Veja mais:

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Andréa Cristina Mascarenhas Nascimento dos Santos

domingo, 8 de julho de 2012

PROJETO MÃOS E FILHOS




Objetivo geral

 

Refletir com os pais sobre os efeitos danosos das punições físicas para o desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças, e analisar o tipo de relação construída entre pais e filhos na atualidade. 

Veja mais:



Andréa Cristina Mascarenhas Nascimento dos Santos