Andréa Cristina Mascarenhas Nascimento dos Santos
"E
quando eles errarem?" Eis uma pergunta que escuto bastante de mães e pais que
estão iniciando-se na Disciplina Positiva. Quero dedicar uma partícula do meu
tempo para falar um pouco sobre os erros das crianças.
Em
nossa sociedade, há uma concepção equivocada e improdutiva a respeito dos erros
da criança, de modo que quase sempre nos pegamos com o sentimento
de péssimos pais quando não conseguimos corrigir os erros de nossos filhos. Como
sempre, vou ilustrar o que afirmo por meio de fatos e falas.
Eu
estava com este texto já bem conduzido quando decidi reescrevê-lo para incluir
a fala de um amigo ao meu marido, dentro de nosso carro, ontem, enquanto transitávamos pelas ruas de Salvador, com destino a
uma clínica de olhos. Meu marido, por um pequeno vacilo ou distração, deixou de
entrar na rua que nos levaria ao nosso destino, seguindo direto na estrada. Ao
perceber que teria que pegar o retorno e que este não se encontrava tão
próximo, fez um pequeno gesto de aborrecimento consigo mesmo. Nosso amigo, que
conhecia bem o caminho, mas que se distraíra com nossa conversa, tranquilamente
afirmou: “Calma; isso não é negativo. Você apenas errou a entrada da rua. Agora
estamos passando por um lugar que você não conhecia antes; isso significa que
você está conhecendo outras imediações, e já conseguirá seguir por um caminho
diferente quando necessário. Por enquanto, é só ficar atento ao retorno. Um
erro na estrada não é tão ruim assim, pois você aprende outros caminhos.” Enquanto
percorríamos o caminho que tomamos acidentalmente, o nosso amigo foi mencionando
alguns elementos do bairro que nós desconhecíamos. E com paciência e atenção,
lembrava ao motorista de pegar o retorno logo adiante.
De fato, é assim mesmo que devemos ver o erro. O erro faz parte da
natureza humana. E com as crianças não é diferente. Nós, os pais, podemos
ajudar os nossos pequenos a utilizarem atitudes erradas na construção de
aprendizados diversos. Um erro, quando percebido e trabalhado, pode gerar
aprendizados sólidos e duradouros. A melhor forma de lidar com atitudes
equivocadas dos filhos, além de dialogar e compreender por que elas não são
apropriadas, é ajudar as crianças a “fazerem o retorno”, consertando o erro,
sempre que possível; isso deve ser realizado com empatia e carinho, não como
castigo. Castigo não educa; ensinar à criança a consertar o seu próprio erro,
sim. Primeiro você deve apontar a seu filho o caminho certo. Se ele errar, você
deve mostrar o retorno; se ele errar novamente, e não necessariamente nessa
ordem, você deve ir junto, fazer o percurso com ele, mostrar como se faz, como
se percorre aquele caminho. E se o erro continuar? Ensine tudo de novo; vá junto com
ele novamente, seja incansável. E caso as coisas fujam ao seu controle, não
hesite em procurar orientação e ajuda. Viver é aprender...
Frente ao erro das crianças, aproveito para destacar algumas
atitudes que nunca devemos ter:
- Criticar a criança. Critique o erro, e não a criança. Diga-lhe
para tentar encontrar formas de resolver seus próprios erros; aponte caminhos
para os acertos e para o seu crescimento individual.
- Ridicularizar a criança. Ridicularizar a criança no momento das
falhas é correr o risco de podá-la, de acuá-la por medo de errar. E isso não é
ético nem saudável.
Enfim, caminhe com a criança e oriente os seus passos. A estrada
da vida é longa e há tempo suficiente para ensinar-lhe muitas coisas boas. Certifique-se
de que você conhece bem o caminho. Priorize o que é fundamental – o amor ao
próximo, a cooperação, a paz, a paciência, a atenção às suas próprias necessidades
e às do outro, o respeito e demais atitudes que você considera importantes para
uma boa convivência social.
Enquanto caminham, aproveite para falar ao seu filho dos detalhes
da estrada, tanto do caminho certo quanto do caminho equivocado; aproveite para
falar de tudo o que ele for encontrando pela frente, das coisas simples (uma
flor na estrada, por exemplo) às mais complexas (os prédios gigantescos que
atrapalham a nossa visão). Perceba: flores pelo chão não são apenas flores pelo
chão. As flores podem ensinar a delicadeza do nosso trato para com as pessoas;
podem ensinar as diferenças entre elas; flores podem ensinar sobre o “perfume
que fica na mão de quem as oferece”. Não perca oportunidade de usar elementos
simples da natureza para ensinar coisas nobres e complexas aos seus filhos.
Assim estaremos, de fato, preparando a criança para errar menos e acertar muito
mais, da infância à fase adulta.
Andréa Cristina Mascarenhas Nascimento dos Santos
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