quarta-feira, 20 de maio de 2015

OPTEI PELA DISCIPLINA POSITIVA. E AGORA?

(Andréa Mascarenhas)

Optei... Não. Não é bem ‘optar’ o verbo que eu quero utilizar; não bater em filhos e criá-los com respeito e empatia de forma alguma é opção. É que faltou uma palavra adequada em meu pobre vocabulário. Mas... o termo que empreguei equivocadamente oportuniza uma poderosa reflexão. Pois bem, vamos refletir juntos? Criar filhos sem castigos físicos é o meu, o seu, o nosso dever. Assim como é nosso dever ter um relacionamento saudável com as pessoas que convivem conosco, nos mais diversos grupos sociais, mantendo uma comunicação baseada no respeito e na empatia. E com os nossos filhos ainda tem algo que deixa em vantagem a relação: o amor. Porque “amor de mãe é amor incondicional” e incrivelmente lindo.

Retornarei ao motivo que me faz escrever este texto, dizendo que quando, respeitosamente, passamos a criar os nossos filhos sem castigos físicos, uma série de questionamentos passam a fazer parte de nossa luta diária. Aproveito para trazer um desses questionamentos aqui, e a ajudar-lhe, caro leitor, a refletir um pouco sobre ele:

“MAS... COMO MEU FILHO VAI ME OBEDECER?”

Em primeiro lugar, quero lhe dizer algo: a obediência não é a coisa mais preciosa na relação mãe-filho. Para melhor elucidar sobre o tema, eu preciso lhe contar um fato que ouvi de uma colega na faculdade, no meu último semestre de Pedagogia, enquanto nós estávamos a falar de educação de crianças e da necessidade de criarmos filhos competentes, saudáveis e amorosos ao mesmo tempo.

O fato: A vizinha de minha colega, todos os dias, saia para trabalhar no mesmo horário em que os filhos iam à escola. Eles eram orientados a pegar, no momento de retorno, a chave, na casa da vizinha ao lado, pois o horário que eles chegavam era anterior ao horário de chegada de sua mãe do serviço. Sua mãe, preocupada em apresentar ao mundo (leia-se aos vizinhos, à família, à escola), filhos bem-educados e amorosos (leia-se obedientes), entre vários ensinamentos, sempre lhes orientava: “Meus filhos, nunca pulem um muro de uma casa, pois quem pula mura é ladrão.” Ela sempre lhes dizia essa frase, ora em tom agressivo, ora com mansidão. O filho menor, de aproximadamente 8 aninhos, assimilou isso de forma muito contundente; o mais velho, de 12 anos, classificado como desobediente, rebelde e algo mais, sentia que não era tão simples obedecer aquela ordem.

Um dia, os dois chegaram em casa e, ao se dirigirem, como de costume, à vizinha ao lado, eis a surpresa: sua mãe não havia deixado a chave. Então, o garoto mais velho, olhando a dimensão do muro e notando ser possível pulá-lo sem se machucar, não esperou um minuto e o fez. O pequeno, agarrado à frase que sua mãe repetia incisivamente, preferiu esperá-la ali do lado de fora, não dando ouvidos ao seu irmão, que o convidava a pular o muro. Inesperadamente, começou uma chuva forte e o adolescente, sentindo que deveria proteger o seu irmão menor, em vão insistiu para que ele aceitasse sua ajuda e proteção. O pequeno optou por tomar aquela chuva e esperar a sua mãe, obedecendo-a acima de tudo, como o bom filho, o filho que “não dá trabalho”. Quando sua mãe chegou, encontrou o pequeno encharcado e em prantos do lado de fora.

O que se passou após esse instante entre essa família não me recordo se a minha colega narrou, mas essa primeira parte do fato já provoca uma excelente reflexão, já define a obediência como um caminho fraco, pobre e inadequado para se seguir.

Acredito que conseguimos tirar desse episódio preciosas lições: obedecer não deve ser prioridade na disciplina de nossas crianças e adolescentes. Ensinar os nossos filhos a refletir, a analisar situações, a se posicionar criticamente é muito mais favorável do que exigir deles obediência. Dar espaço às crianças para a argumentação, orientando-as sempre à busca de caminhos próprios é muito mais saudável do que lhes ensinar a obediência cega. Compreendido isso, é simples refletir e buscar outras alternativas.

Entre as alternativas à obediência, destaco aqui algumas:

1. Dialogue e crie vínculo com a criança, sempre.
Dialogue, Dialogue, Dialogue. Sem reclamações; sem gritos; sem ordens. Procure compreender a criança, saber o que sente, o que ela espera de você também, e não apenas lhe diga o que espera dela. Esse momentos geram vínculo. ‘Capriche’ na construção do vínculo. O vínculo vai lhe dar espaço para que sejam observados as necessidades e os desejos das crianças, então você precisa satisfazer-lhes o corpo e a alma, fazendo o seu filho feliz, sempre que for possível. Essa atenção e cuidado faz gerar quase sempre uma conexão perfeita, que, certamente, provocará na criança a expressão de amor, carinho e respeito. E quando a obediência for realmente necessária, é bem provável que o seu filho tenha a confiança suficiente para atender à sua ordem ou pedido.

2. Saiba o que fazer no momento em que o seu filho lhe “contrariar”.
Quando a criança desobedece, nem sempre é porque quer lhe desafiar. Esteja preparado para lidar com esses momentos. Pode ser que haja uma quantidade enorme de expectativas e anseios escondidos dentro dela que você desconheça. Por isso, não se desespere, e esteja sempre de pé e pronto a dialogar com paciência e tranquilidade.

3. Tenha poucas regras, mas claras; priorize regras que valorizem a pessoa como ser humano e não regras que valorizem o ambiente e as coisas.
Se seu filho tem a facilidade de bagunçar e deixar tudo desarrumado, mas possui capacidade de enxergar o outro, de sentir compaixão pela dor do outro, de ser sensível às necessidades do outro, valorize isso; diga para ele o quanto esses gestos e atitudes são importantes e o faz crescer bem e feliz. Evite reclamações pela bagunça que fez, por não ter senso de organização etc. Isso é ensinamento secundário. O mais importante ele já aprendeu.
Lembre-se sempre: como pais, precisamos ensinar a nossos filhos, acima de tudo, os valores necessários para conviver bem em sociedade. A obediência cega pode levar-lhes a aceitar situações de injustiça, desonestidade e inverdades. Portanto, prefira filhos questionadores e reflexivos a filhos obedientes.

4. Respeite os limites psicológicos da criança. Respeite as diferentes fases e momentos da criança.
Importante que antes de exigir qualquer coisa de seu filho, você tenha a convicção de que isso não está além do que ela possa lhe dar naquele momento. Leia sobre as fases do desenvolvimento infantil. Compreenda quando seu filho não está bem, se está sonolento ou cansado, se está chateado com algum episódio ou alguém, se está doentio ou indisposto etc. Não adianta exigir que ele faça a lição de casa em um momento de sono, por exemplo, pois isso só causará estresse para vocês dois. Prefira organizar seus horários e os dele, de forma a não deixar espaços para esses desencontros e desgastes.

Enfim, as crianças chegam ao mundo sem saber de nada. Somos nós, pais, seus grandes mestres! Então, paciência e estratégia, mestre! Um bom educador ensina e aprende, portanto esteja sempre pronto a instruir-se; não canse de buscar orientações para educar seus filhos da melhor forma possível. Capriche no vínculo, no respeito, na empatia e no amor. O resto é resto.

Andréa Cristina Mascarenhas Nascimento dos Santos

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