sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

“FAÇA O QUE EU DIGO, MAS NÃO FAÇA O QUE EU FAÇO"

- Andréa Cristina Mascarenhas Nascimento dos Santos -

A palavra tem força considerável na educação das nossas crianças e adolescentes; as atitudes, porém, têm muito mais eficácia. Elas são capazes de impactar positiva ou negativamente as ações e comportamentos de nossos filhos e filhas. No cotidiano, ensinamos muito mais do que o que pensamos. Na entonação da voz, nos gestos finos ou grosseiros; e até em como tocamos os nossos pequenos, revelamos as nossas intenções e o nosso pensamento sobre o funcionamento do mundo e das pessoas. Nessa interação, uma gama de aprendizados, conceitos e valores vão se formando, e imediatamente passam a ser vivenciados por eles. Ao apresentarem comportamentos incompatíveis com os discursos, os pais embaraçam a mente das crianças e tendem a formar valores opostos ao que pretendem. Aí entra em questão uma palavrinha incrível, excepcional, indispensável na educação dos filhos, chamada exemplo.

Estava eu assistindo a uma palestra ministrada pelo psicólogo Moacir Lira, em agosto de 2012, evento proporcionado pela Secretaria de Educação, em nosso município, auditório com centena de mães (e alguns pais), quando o profissional, falando sobre a educação não-violenta, afirmou algo como: “Pais, não devemos e nem podemos bater em nossos filhos; filho tem que ser ensinado com paciência e amor.” O silêncio dominava o ambiente; percebia-se atitude de reflexão e atenção, quando se ouviu uma voz grave, forte e irritada, a cerca de três metros de onde eu estava: “Tem que bater mesmo pra exemplar”. Passados alguns segundos, olhei para trás, discretamente, à procura de uma voz masculina. Mas não havia homens por perto, só mulheres. Horrorizada com o tom de voz que eu ouvi, fiquei pensando como não seria o dia-a-dia de uma criança, entre as quatro paredes de sua casa, com aquela mãe que, em público e furiosamente, fez questão de anunciar a importância que dava ao ato de bater em seus filhos.

Tristemente constrangida pelo eco daquelas amargas palavras, refletia sobre o que ouvira, percebendo a incoerência da mãe diante do que pretendia ensinar aos filhos: “Exemplar” é dar exemplo, é ensinar através das próprias atitudes e forma de ser. Então, aquela mãe, ao achar que estaria ensinando bons valores ao filho, batendo-lhe, estaria ensinando-lhe gestos brutais e grosseiros, tratamento que o filho iria acabar aprendendo e devolvendo-lhe. “Meu filho, eu te bato para exemplar. Então, pode fazer como eu faço; pode bater em mim e nas outras pessoas.”

Quantos pais não se sentem tristes e frustrados com seus filhos por não saberem se comunicar com gentileza e sem gritos? Será que tratam os filhos da forma como gostariam de ser tratados? Ou acham que criança ainda é um ser pequeno demais para merecer respeito? Enquanto assim pensam, a criança está ouvindo, absorvendo e copiando absolutamente tudo, e formando a sua personalidade e caráter.

Para os pais que, um dia, pensaram parecido com a mãe que mencionei acima, afirmo que educar é ensinar, mostrar o caminho, orientar limites, dialogar. E isso se faz com carinho, dedicação, atenção e paciência. Há que se compreender as FASES DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL para guiar as crianças de acordo com cada fase, evitando cobrar atitudes para as quais seus filhos ainda não estão preparados.

Queridos pais e mães, lembrem-se sempre: somos como espelhos para os nossos filhos. Eles admiram as nossas atitudes; seguem nossos passos; eles ‘se amarram’ naquilo que SOMOS. Queremos filhos amorosos, respeitosos, pacientes, honestos, verdadeiros, justos, tranquilos? Sejamos para eles a expressão do amor, do carinho, do respeito, da paciência, do cuidado, da honestidade, da verdade, da justiça. Em outras palavras, tenhamos a competência de dizer: “Ei, filhos, sigam-me; podem me imitar, podem fazer tudo o que faço e vocês serão homens e mulheres de bem na vida.” Temos credibilidade para dizer-lhes isso? Então, prossigamos sem medo de errar!

Em suma: em vez de preparar longos discursos, sejamos exemplo! Essa é a dica prática mais valiosa de disciplina positiva. Ao contrário do que se pensa, não é o “não” que tem a força maior de orientar limites, mas o exemplo. Porque o exemplo dos pais ensina exatamente, e sem deixar margens a dúvidas, o que os filhos devem ou podem fazer. As palavras ensinam; o bom exemplo valida as palavras, e mostra, na prática, o que convém - ou não - fazer, atraindo os filhos para novas e boas atitudes. Além disso, o pai e a mãe são as pessoas em quem a criança confia e, consequentemente, inspira-se durante todo o tempo; ela copia suas atitudes, que servirão de base para sua convivência social. Em outras palavras, os pais ocupam o lugar de espelho, onde a criança, a todo instante, contempla-se.


Andréa Mascarenhas

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