- Andréa Cristina Mascarenhas Nascimento dos Santos -
A palavra tem força considerável na educação das nossas crianças
e adolescentes; as atitudes, porém, têm muito mais eficácia. Elas são capazes
de impactar positiva ou negativamente as ações e comportamentos de nossos
filhos e filhas. No cotidiano, ensinamos muito mais do que o que pensamos. Na
entonação da voz, nos gestos finos ou grosseiros; e até em como tocamos os
nossos pequenos, revelamos as nossas intenções e o nosso pensamento sobre o
funcionamento do mundo e das pessoas. Nessa interação, uma gama de
aprendizados, conceitos e valores vão se formando, e imediatamente passam a ser
vivenciados por eles. Ao apresentarem comportamentos incompatíveis com os
discursos, os pais embaraçam a mente das crianças e tendem a formar valores
opostos ao que pretendem. Aí entra em questão uma palavrinha incrível,
excepcional, indispensável na educação dos filhos, chamada exemplo.
Estava eu assistindo a uma palestra ministrada pelo psicólogo
Moacir Lira, em agosto de 2012, evento proporcionado pela Secretaria de
Educação, em nosso município, auditório com centena de mães (e alguns pais),
quando o profissional, falando sobre a educação não-violenta, afirmou algo
como: “Pais, não devemos e nem podemos bater em nossos filhos; filho tem que
ser ensinado com paciência e amor.” O silêncio dominava o ambiente; percebia-se
atitude de reflexão e atenção, quando se ouviu uma voz grave, forte e irritada,
a cerca de três metros de onde eu estava: “Tem que bater mesmo pra exemplar”.
Passados alguns segundos, olhei para trás, discretamente, à procura de uma voz
masculina. Mas não havia homens por perto, só mulheres. Horrorizada com o tom
de voz que eu ouvi, fiquei pensando como não seria o dia-a-dia de uma criança,
entre as quatro paredes de sua casa, com aquela mãe que, em público e furiosamente,
fez questão de anunciar a importância que dava ao ato de bater em seus filhos.
Tristemente constrangida pelo eco daquelas amargas palavras,
refletia sobre o que ouvira, percebendo a incoerência da mãe diante do que
pretendia ensinar aos filhos: “Exemplar” é dar exemplo, é ensinar através das
próprias atitudes e forma de ser. Então, aquela mãe, ao achar que estaria
ensinando bons valores ao filho, batendo-lhe, estaria ensinando-lhe gestos
brutais e grosseiros, tratamento que o filho iria acabar aprendendo e
devolvendo-lhe. “Meu filho, eu te bato para exemplar. Então, pode fazer como eu
faço; pode bater em mim e nas outras pessoas.”
Quantos pais não se sentem tristes e frustrados com seus filhos
por não saberem se comunicar com gentileza e sem gritos? Será que tratam os
filhos da forma como gostariam de ser tratados? Ou acham que criança ainda é um
ser pequeno demais para merecer respeito? Enquanto assim pensam, a criança está
ouvindo, absorvendo e copiando absolutamente tudo, e formando a sua personalidade
e caráter.
Para os pais que, um dia, pensaram parecido com a mãe que
mencionei acima, afirmo que educar é ensinar, mostrar o caminho, orientar
limites, dialogar. E isso se faz com carinho, dedicação, atenção e paciência.
Há que se compreender as FASES DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL para guiar as
crianças de acordo com cada fase, evitando cobrar atitudes para as quais seus
filhos ainda não estão preparados.
Queridos pais e mães, lembrem-se sempre: somos como espelhos
para os nossos filhos. Eles admiram as nossas atitudes; seguem nossos passos;
eles ‘se amarram’ naquilo que SOMOS. Queremos filhos amorosos, respeitosos,
pacientes, honestos, verdadeiros, justos, tranquilos? Sejamos para eles a
expressão do amor, do carinho, do respeito, da paciência, do cuidado, da
honestidade, da verdade, da justiça. Em outras palavras, tenhamos a competência
de dizer: “Ei, filhos, sigam-me; podem me imitar, podem fazer tudo o que faço e
vocês serão homens e mulheres de bem na vida.” Temos credibilidade para
dizer-lhes isso? Então, prossigamos sem medo de errar!
Em suma: em vez de preparar longos discursos, sejamos exemplo!
Essa é a dica prática mais valiosa de disciplina positiva. Ao contrário do que
se pensa, não é o “não” que tem a força maior de orientar limites, mas o exemplo.
Porque o exemplo dos pais ensina exatamente, e sem deixar margens a dúvidas, o
que os filhos devem ou podem fazer. As palavras ensinam; o bom exemplo valida
as palavras, e mostra, na prática, o que convém - ou não - fazer, atraindo os
filhos para novas e boas atitudes. Além disso, o pai e a mãe são as pessoas em
quem a criança confia e, consequentemente, inspira-se durante todo o tempo; ela
copia suas atitudes, que servirão de base para sua convivência social. Em
outras palavras, os pais ocupam o lugar de espelho, onde a criança, a todo
instante, contempla-se.
Andréa Mascarenhas
Nenhum comentário:
Postar um comentário