quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Práticas usadas pelos pais no disciplinamento dos filhos

Andréa Mascarenhas


Os estudos revelam que as práticas educativas diferem nos diversos grupos sociais e tempos. Pais, mães e educadores, de forma geral, questionam-se sobre formas de disciplinar os filhos. Pesquisadores observam que algumas famílias são capazes de “funcionar” com certa facilidade, têm filhos tranquilos, bem desenvolvidos e resolvidos emocionalmente; enquanto outras, de mesma situação econômica e social, vivenciam problemas de toda ordem. De acordo com Zamberlan (2003), a família continua a ser o fator norteador do desenvolvimento da personalidade da criança. Porém, quando se fala em desenvolvimento infantil, muitos cuidadores não fazem ideia de sua responsabilidade nesse processo. A criança não se desenvolve sozinha, ela é guiada por exemplos e atitudes dos adultos. As práticas educativas parentais têm uma forte influência nesse desenvolvimento.

Lubi (2003) explica que o desenvolvimento infantil está claramente vinculado ao contexto familiar, às vivências e às práticas educacionais. Essas, por sua vez, constituem-se num conjunto de estratégias, com o objetivo de adquirir obediência e respostas dos filhos a determinadas solicitações de seus pais. Essas práticas visam orientar, educar, instruir e controlar o comportamento dos filhos, a fim de atingir condutas consideradas adequadas pela sociedade.

Badinter, 1985, afirma que as práticas educativas têm relação com a forma pela qual foi vista a criança durante séculos: como uma propriedade privada dos pais e da sociedade; como um adulto em miniatura; e como força do mal, julgada e condenada segundo as normas dos adultos.

Ingberman (2001) relaciona alguns aspectos do comportamento familiar que colaboram para a adequação de seus membros. O primeiro é a comunicação e se refere a comportamentos verbais ou não verbais expressos por seus membros. O segundo aspecto refere-se à iniciação da disciplina, que envolve interação entre pais e filhos, incluindo a aceitação e/ou confronto com as regras. Quando os pais não sabem lidar com a criança, dão margem ao aparecimento de problemas de ordem disciplinar, prejudicando o bom desenvolvimento de seus filhos e gerando rupturas na prática da disciplina, colocando a criança em situação de risco. O terceiro aspecto refere-se aos papéis de cada membro dentro da família, contribuindo para a harmonia da mesma.

O quarto aspecto envolve a liderança que os pais devem exercer no grupo familiar, uma liderança democrática, que combine paternidade com autoridade e busque o bom desenvolvimento emocional de todos. Ainda dentro desse aspecto, Ingberman lembra que a característica dos pais autoritários é exigir obediência rigorosa da criança sem lhe dar explicações, e que os pais “com autoridade” impõem limites, mas são consideravelmente mais flexíveis, mantém o diálogo como ferramenta importante na relação e dão muito carinho aos filhos. Gottman e Claire (1997) dizem que crianças que crescem sem limites e sem orientação de seus pais apresentam dificuldades de concentração, em fazer amizades e em relacionar-se com seus pares. Afirmam, ainda, que as crianças precisam de limites seguros e saudáveis, e que a nossa disposição em colocar esses limites transmite amor.

Os conflitos constituem-se no quinto aspecto e podem ser benéficos, ou não; dependendo de como são tratados, podem conduzir ao equilíbrio ou desequilíbrio emocional. O sexto aspecto ressalta que é comum a manifestação da agressividade no ambiente familiar, mas a afeição deve estar acima desse comportamento, e cabe aos pais gerenciar tais comportamentos. O sétimo diz respeito à harmonia dos pais, gerando esforços para a conquista de objetivos comuns. O oitavo e último aspecto refere-se à autoestima e apresenta a importância de atitudes dos pais para com seus filhos, destacando o interesse por seus sentimentos, sonhos e realizações. Enfatiza, ainda, os danos causados pelos maltratos à vida da criança.

Lubi classifica as práticas educativas em coercitivas e não-coercitivas. Embora ambas têm o mesmo objetivo, são muito diferentes e responsáveis por diferentes efeitos.

As estratégias de força coercitiva, segundo Alvarenga (2001), são caracterizadas pelo uso da força e da punição, seja física ou psicológica. Entre as formas de manifestação da força coercitiva estão os castigos físicos, a privação do afeto e as ameaças. A criança controla seu comportamento em função das reações dos pais. A força coercitiva produz fortes emoções negativas, tais como medo, raiva e ansiedade, que interferem negativamente na capacidade da criança entender seu erro. Portanto, as práticas de força coercitiva não beneficiam o aprendizado das regras e padrões sociais. Frequentemente são citadas as relações entre práticas de caráter coercitivo e problemas de comportamento, entre eles estão a agressividade, desobediência etc.

De acordo com Weber, Viezzer e Brandenburg (2003, p. 499), para muitos pais a punição física é a melhor forma de disciplinar os filhos. Isso acontece porque a força física paralisa a ação, levando a criança a mudar de comportamento momentaneamente. A imediata obediência traz benefício para os pais, aumentando a probabilidade de continuarem a utilizar tal prática em outras situações. Os pais, explicam as autoras, precisam aprender outras formas de disciplinar seus filhos, que garantam a mudança de comportamento duradoura e adequada, mantendo uma dinâmica familiar, que priorize o afeto, o comprometimento e a autoridade democrática.

As estratégias de força não-coercitiva envolvem a utilização da disciplina positiva (uso de reforçadores), o estabelecimento de regras (limites), com uma supervisão constante, incentivo à autonomia e fortalecimento da autoestima da criança.


Capítulo 1.3 de meu TCC 'RELAÇÕES INTERPESSOAIS E A APRENDIZAGEM: O IMPACTO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NO DESEMPENHO ESCOLAR', disponível em: http://www.4shared.com/office/0KNzH8bW/TCC_-_Relaes_interpessoais_e_a.html


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